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    Luciana Coelho

    Série 'The Marvelous Mrs. Maisel', da Amazon, é perfeita para este Natal

    22/12/2017 02h31

    Nicole Rivelli/Amazon
    A atriz Rachel Brosnahan como a protagonista de "The Marvellous Mrs. Maisel", da Amazon
    A atriz Rachel Brosnahan como a protagonista de "The Marvellous Mrs. Maisel", comédia da Amazon

    Eis o final perfeito para um ano de séries feministas, protestos antissexismo e denúncias de agressão sexual deprimentes: "The Marvelous Mrs. Maisel", uma comédia embebida na atmosfera cinquentista de dias-melhores-virão, à la Frank Capra, mas com uma protagonista mulher, judia, sem freio na língua, em um meio perversamente masculino, os palcos cômicos.

    Amy Sherman-Palladino, o cérebro por trás de "Gilmore Girls", sabia o que estava fazendo ao parir "Mrs. Maisel", fincá-la em uma Nova York nostálgica e (re)vesti-la em technicolor, figurino lindo, fotografia lúdica e toda a doçura esperada ao tratar de uma época em que a vida era mais fácil e as pessoas, mais felizes -uma fantasia criada pelo cinema, mas uma na qual gostamos de crer.

    É a anti-"Mad Men", uma série que aborda os mesmos problemas, flutua na mesma era, mas com diálogos que usam 18 vezes mais palavras, como sói ser com Sherman-Palladino. E que, ao fim de cada episódio, você sorri, em vez de querer matar uma garrafa de uísque. Na tradição da comédia de humoristas judeus, a desgraça em "Mrs. Maisel" se desdobra em piada.

    Boa parte dessa força vem da protagonista, vivida por Rachel Brosnahan (você já a viu como a prostituta perseguida pelo doido Doug Stamper em "House of Cards" ).

    Miriam "Midge" Maisel é uma dona de casa com marido e dois filhos pequenos, pais zelosos (Tony Shalhoub, o Monk, e Marin Hinkle) e conforto financeiro que vive no Upper West Side, bairro rico de Nova York, em 1958. Até que o marido, Joel (Michael Zegen), a troca pela secretária. Sem chão -e meio bêbada- ela encontra o palco do clube Gaslight, espaço de stand-up no boêmio bairro do Greenwich Village.

    Seu estilo ácido e seus comentários cheios de palavrões contrastam com a persona delicada e elegante em que ela se apresenta, o que logo cativa o público. Suas piadas fluem porque se calcam em questões reais e em uma perspectiva raramente vista nos palcos de comédia, menos ainda nos anos 1950: a feminina.

    Muito se falou de quem seria a inspiração para Midge, uma personagem fictícia que cruza com gente real. Está na série como um de seus incentivadores o também judeu Lenny Bruce (Luke Kirby), um comediante genial que morreu precocemente de overdose, aos 40, após uma carreira brilhante e que inspiraria ao menos três gerações de escritores, cineastas e atores com suas tiradas rápidas e ultrassarcásticas.

    Contudo, apesar de alguns nomes serem levantados (Joan Rivers, Anne Meara -a mãe de Ben Stiller-, a vanguardista Totie Fields), sabemos que Midge é 100% produto de ficção, com sua vida bem-traçada e cheia de expectativas sumariamente convertida em algo cujo destino é incerto, mas a faz protagonista.

    A provocação de colocar Lenny Bruce na série, a seu lado, porém, não deixa de nos fazer pensar: e se os microfones, décadas atrás, tivessem sido entregues também a mulheres?

    Os oito episódios de The Marvelous Mrs. Maisel" estão disponíveis no Prime Video da Amazon

    luciana coelho

    É editora de 'Mundo' e foi correspondente em Nova York, Genebra e Washington. Escreve às sextas sobre séries de TV.

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