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    Luciana Coelho

    Em quarta temporada, 'Black Mirror' questiona relações humanas essenciais

    29/12/2017 02h00

    Divulgação
    A atriz Letitia Wright em episódio da quarta temporada de "Black Mirror"
    A atriz Letitia Wright em episódio da quarta temporada de "Black Mirror"

    Qual o seu maior medo? Perder o filho? Ser perseguido e acossado? Se descobrir vigiado e ser punido por aquilo que julgava estar fazendo em privado? Ser manipulado pelos desígnios de outra pessoa? Ou nunca encontrar sua alma gêmea, fadado a um sem-fim de relações inócuas?

    "Black Mirror", a série criada pelo britânico Charlie Brooker que questiona os reveses da nossa simbiótica relação com a tecnologia, volta à Netflix nesta sexta (29) com uma quarta temporada igualmente provocativa, embora menos ambiciosa e inspirada que as anteriores.

    Se antes no centro da série estavam nosso comportamento como grupo e a relação com hardwares e softwares em si, a atenção, ao menos nos episódios mais bem sucedidos da nova leva, recai sobre as relações humanas essenciais (família, sexo, trabalho) e como as temos filtrado por meios nem sempre benignos.

    O trunfo é "Arkangel", episódio dirigido por Jodie Foster, que já trabalhara atrás da câmera para a plataforma de streaming em dois episódios de "Orange is the New Black" e um da proscrita "House of Cards".

    Na estreia da temporada, ela aborda o laço mãe e filha e o medo atávico que os pais têm de perder a prole, no sentido literal e figurado.

    Após ver a filha pequena sumir em um parquinho, uma mãe (Rosemarie DeWitt) resolve oferecer a menina como cobaia para uma empresa de monitoramento parental. O produto em teste é um implante com um filtro similar ao que impede crianças de assistirem a programas inadequados para sua idade, mas que a poupa do mundo real.

    Em "Hang the DJ", que evoca Smiths e faz lembrar o capítulo mais pop da temporada anterior, "San Junipero", um casal se submete a um aplicativo de namoro que dita do momento do primeiro encontro ao que comerão e o tempo de vida que terá o relacionamento, até que se ache o parceiro definitivo. Pode ser superlativo, mas não é nada tão diferente do que temos em curso.

    No mais estrelado dos seguimentos, "USS Callister", um programador genial prende versões virtuais de seus afetos e desafetos em um jogo que emula o visual "Star Trek", no qual ele tem todos os poderes e glórias.

    Jesse Plemons, Jimmi Simpson e Cristin Milioti, que nos últimos anos se destacaram como coadjuvantes em "Breaking Bad", "WestWorld" e "How I Met Your Mother", respectivamente, estão no elenco.

    Os episódios não são aterradores como nas demais temporadas, talvez por tratarem mais de presenças do que de ausência; mais de relações comuns do que de pontos fora da curva.

    Mesmo assim, continuam eficazes ao nos fazer questionar se temos usados a tecnologia para benefício nosso e de outras pessoas. É um bom jeito de encerrar este ano.

    Os seis episódios da quarta temporada de "Black Mirror" estão disponíveis na Netflix.

    luciana coelho

    É editora de 'Mundo' e foi correspondente em Nova York, Genebra e Washington. Escreve às sextas sobre séries de TV.

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