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    Lúcio Ribeiro

    O fanatismo árabe

    26/03/2013 03h00

    Uma história das arábias. Minha em particular, do futebol em geral.

    Quando morei em Londres, nos anos 90, costumava ir ao Hyde Park me meter em qualquer grupo que se juntasse para jogar bola. Gostava de entrar em times que tinham árabes. Evitava os com italianos (exibidos) ou escoceses e irlandeses (desajeitados). Mesmo não entendendo de onde vinha tal habilidade, preferia árabes ao meu lado: tinham rapidez, alguma "noção boleira" e eram dedicados.

    Encontro-me hoje no Oriente Médio, em um país árabe, precisamente na Jordânia. Num esforço "investigativo-turístico", hábito meu em viagens, quero saber a quantas anda o futebol local. Não lido com a escrita dos jornais daqui, mas o "Jordan Times" me salva. E os fanáticos jordanianos também.

    O mundo árabe ferve, e me refiro a futebol. Tem esse papo da criação da Liga dos Sonhos, torneio bienal que reuniria os 24 principais clubes da Europa no Qatar, o país novo-rico do mundo árabe. Pagaria fortunas para participantes e campeão.

    A Europa ri. Ri de nervoso e ri com cifras nos olhos. Franceses dizem que é notícia plantada, o Qatar nega, os ingleses garantem.

    Você duvida de coisa assim vinda da região que é dona do Manchester City, do Paris Saint-Germain, da megaTV Al Jazeera, da Emirates, da camisa do Barcelona e da Copa de 2022, que promete ser a mais nababesca de todas?

    De um povo que no ataque da Itália é representado por Al Shaarawy, por Khedira na Alemanha, por Nasry na França, que teve o mito Zinedine Zidane?

    Por razões extraesportivas é que estou na Jordânia, a convite do turismo local. Bem menos endinheirado que Qatar e Arábia Saudita, descobri que o reino aqui, embora sua seleção tenha história pífia, é tão doido por futebol quanto todo o Oriente Médio. A começar pelo rei, que largou o cargo de presidente da federação só quando chamado ao trono.

    Jordanianos adoram o Brasil. A ponto de o garoto das malas no hotel me dar sua opinião sobre o Scolari, dizer que o Kaká precisa de chance e citar o Neymar. Mas parecem viver mesmo o Campeonato Espanhol. Nas ruas, camisas do Real Madrid e Barcelona não raro se misturam a burcas, keffiyehs e outras tantas vestimentas típicas.

    Hábito comuns aos ocidentais, amigos árabes se juntam em bares para ver jogos das principais ligas da Europa. Mas os bares são "coffee shops" e a "cerveja" deles, o fumo. Em volta das TVs, eles veem a partida fumando nargilé, os cachimbos de água. A maioria muçulmana evita o álcool.

    Hoje a Jordânia enfrenta o Japão pelas eliminatórias da Ásia para a Copa no Brasil. Precisa ganhar para manter as chances de ir ao seu primeiro Mundial. Um brasileiro, Manuel Barrionuevo, é o auxiliar-técnico para a preparação física da seleção. Ele me contou sobre o futebol na Jordânia e me convidou a ver o jogo. Vamos ver se consigo.
    Queria ir para torcer pelos árabes, como agradecimento pelas peladas em Londres.

    lúcio ribeiro

    Escreveu até dezembro de 2013

    É jornalista de cultura pop, editor do blog Popload, no UOL, colaborador da "Ilustrada", mas acha que no fim gosta mais de futebol do que de música.

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