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    Lúcio Ribeiro

    Quando Thatcher morrer

    09/04/2013 03h00

    Não me recordo exatamente quando foi a última vez em que estive em um jogo do Liverpool, se em 2007 ou 2008, mas o que me lembro é que naquele dia a torcida do time cantou "When Maggie Thatcher Dies".

    O cântico, entoado não por poucos, dizia na letra que eles fariam uma festa quando a ex-primeira-ministra britânica morresse.

    No dia achei engraçado e depois fui me inteirar sobre por que aquela música, naquela altura, anos depois do governo Thatcher, de figura tão escanteada do noticiário à época, ainda estava saindo a plenos pulmões na torcida do Liverpool.

    Eles jamais perdoaram a ex-premiê por ter botado a culpa pela tragédia de Hillsborough (a superlotação que virou desastre em 1989) na torcida do Liverpool. Uma investigação, divulgada em 2012, comprovou que grande parcela de culpa foi da inabilidade policial.

    Se em 2007, 2008 eles já cantavam a música da Thatcher, com vozes até da nova geração de torcedores que nem frequentava estádio em 1989, imagina no ano passado, quando a apuração foi revelada com tal veredito. E imagina no próximo jogo do Liverpool, uma vez que Thatcher morreu mesmo, ontem. Torcedor não esquece.

    Ainda pelos lados ingleses, ainda sobre torcedor, é impressionante a história de um senhor de 67 anos, simpatizante do Nottingham Forest, que na semana passada estava especialmente #chatiado (desculpe, soube do caso pelo Twitter).

    Por causa de uma cirurgia, Stuart Astill deixou de presenciar em campo um jogo do Forest pela primeira vez em 40 anos. Dados da imprensa inglesa: foram 1.786 partidas seguidas, com um percurso entre Inglaterra e Europa que aponta 160 mil km viajados. Astill, que já viu seu time do coração, no estádio, 2.534 vezes desde 1956, não perdia um jogo desde 1973, quando foi a um casamento. "Sabia que um dia minha sequência ia ser interrompida, mas não esperava ser tão cedo."

    Ando sensível com o assunto "torcedor". Pelo visto, mais que Marin, presidente da CBF.

    Nova Fonte Nova (Copa das Confederações e do Mundial) inaugurada com pontos cegos para o público. Pelo que vi no Instagram, não tinha nem lugar para pôr os pés, quando sentado. Juiz em BH negando ressarcimento de torcedor que entrou na Justiça contra a falta de água, comida e higiene nos banheiros do Mineirão (Copa das Conf...), com o argumento de que "estádio não é lugar para se esperar conforto". O caso dos 12 corintianos presos na Bolívia desde fevereiro.

    Não estou comparando exemplos ingleses com brasileiros. Nem quero entrar no mérito de torcedor comum x torcida organizada.

    Mas, se um torcedor brasileiro sobrevivesse para ver quase 1.800 jogos seguidos de seu time, ele não mereceria uma mera reportagem. Mereceria, sim, virar o nome do estádio desse clube. Ou uma estátua.

    lúcio ribeiro

    Escreveu até dezembro de 2013

    É jornalista de cultura pop, editor do blog Popload, no UOL, colaborador da "Ilustrada", mas acha que no fim gosta mais de futebol do que de música.

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