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    Lucy Kellaway - Agências de notícias

    Viajar com meu namorado prejudicará minhas chances de emprego?

    LUCY KELLAWAY
    DO "FINANCIAL TIMES"

    03/06/2013 12h00

    "Trabalho em mercados globais para um banco de investimento desde que me formei, seis anos atrás.

    Recentemente, surgiu a oportunidade de uma viagem com meu namorado, mas fiquei imaginando por quanto tempo eu poderia ficar afastada do setor e ainda ter chance de um emprego ao retornar. Seis meses? Um ano? Três anos?

    Também estou ciente de que, quando voltar, serei uma mulher compromissada com pouco mais de 30 anos, o que não deveria prejudicar minhas chances de emprego, mas talvez prejudique.

    Como lidar com essa situação antes de partir, para manter o maior número possível de portas abertas?"

    Executiva financeira, 28

    *

    O conselho de Lucy:

    Você está fazendo a pergunta errada. O que você deveria estar imaginando é quanto tempo poderia passar longe do seu namorado e ainda ter chance de ser recontratada por ele. Seis meses não deve ser problema. Um ano seria arriscar. Três anos, impossível.

    Se você realmente gosta desse homem –e presumo que sim, já que está considerando largar tudo para flanar pelo mundo com ele–, deveria aceitar o convite para acompanhá-lo.

    Um bom namorado é um recurso mais escasso que um emprego em mercados globais em um banco de investimento, tal que, se ele vai viajar por três anos, seria racional acompanhá-lo.

    Mas a maneira curiosamente fria com que você apresenta a pergunta me faz duvidar um pouco.

    Você apresenta a pergunta como se fosse entre a alegria de viajar, por um lado, e a segurança de um emprego, do outro.

    Expressando a questão nesses termos, acho que você está errada nos dois sentidos.

    Não existem empregos seguros na City [centro financeiro de Londres]. Mesmo que você decida permanecer no banco, pode se ver demitida a qualquer momento. Além disso, viajar nem sempre é divertido. Especialmente por períodos prolongados e especialmente quando o seu dia a dia envolve trabalhar em um banco elegante.

    Para responder diretamente à pergunta sobre o que você poderia fazer para melhorar sua chance de ser recontratada, converse com seu chefe, mas não espere demais. Tente falar com o superior que responde pela sua avaliação e extrair alguma forma de promessa, ainda que vaga.

    É improvável que o banco garanta alguma coisa por escrito (e por que deveria?), mas pode ser que ao menos esteja disposto a informar sobre sua situação real.

    Quanto à duração da ausência, você decerto já conhece a resposta. Seis meses pode funcionar, e um ano pode ser aceitável. Mas três anos é tempo demais.

    Os mercados se mexem bastante nesse tempo, e as pessoas idem. Quem tiver prometido seu emprego de volta provavelmente já não ocupará posição que permita honrar a promessa, três anos mais tarde. E você também terá mudado –depois de viajar pelo mundo, os mercados globais podem parecer menos charmosos, em seu retorno.

    Mas quanto a uma coisa você não precisa se preocupar. Os bancos contratam pessoas por considerarem que serão boas em suas funções. Discriminar uma mulher porque um dia ela pode ter filhos seria ilegal.

    Tradução de PAULO MIGLIACCI

    lucy kellaway

    Escreveu até julho de 2017

    É editora e colunista de finanças do 'Financial Times'.

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