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    Lucy Kellaway

    Como discutir o comprimento das saias?

    LUCY KELLAWAY
    DO "FINANCIAL TIMES"

    10/06/2013 12h00

    "Uma jovem muito atraente, de 27 anos, foi acusada de violar o código de vestimenta..."

    "Sou um executivo de primeiro escalão em um banco, e uma das minhas subordinadas diretas acaba de fazer uma avaliação negativa sobre uma das subordinadas dela em seu relatório anual, por desrespeito ao código de vestimenta. A executiva que recebeu a avaliação negativa protestou contra ela e o assunto portanto chegou à minha mesa. Estou um pouco nervoso por ter de discutir a questão diretamente com uma jovem de 27 anos e muito atraente, acusada de usar saias curtas demais e decotes ousados demais. O código de vestimenta não é específico, e portanto a questão é subjetiva. O que devo fazer?"

    Executivo financeiro, homem, mais de 40.

    *

    A resposta de Lucy:

    Vocês três sairão chamuscados desse incidente de moda.

    A executiva de 27 anos por ainda não ter percebido que decotes ousados não são aceitáveis no ambiente bancário. E que tampouco é aceitável se lamuriar quanto a uma avaliação.

    A chefe dela, sua subordinada direta, se sai ainda pior. Cabe a ela impor o código de vestimenta. Não foi capaz de fazê-lo, e em lugar disso optou por mencionar o assunto na avaliação anual, cujo foco deveria ser o desempenho dos subordinados, não seus guarda-roupas.

    Talvez ela tenha ciúme de uma subordinada mais jovem e atraente, e talvez não tenha. De qualquer forma, está se provando completamente incapaz de gerenciar bem a subordinada em questão.

    Compreendo o motivo de sua exasperação, mas você tampouco escapará a críticas. Está resmungando, com medo de conversar com uma mulher jovem e atraente. Por quê? Tem medo de que ela o morda? Tem medo de enrubescer?

    Se você pretende continuar comandando mulheres em sua equipe, precisa deixar de lado o nervosismo quando uma delas é bonita. Olhe para o alto, pense na Inglaterra ou tome um betabloqueador. Resolver essas disputas é parte de sua função.

    O fato de que se refiram a algo tão trivial quanto o comprimento de uma saia não significa que possa empurrar a responsabilidade ao departamento de recursos humanos. As maiores brigas sempre começam por motivos ostensivamente pequenos.

    Assim que conseguir se controlar, converse com sua subordinada direta. Exija que ela explique por que se colocou nessa confusão. Lembre-a de que uma avaliação anual não é o foro para discutir comprimento de saias. Diga que a avaliação dela sofrerá caso se prove incapaz de administrar sua equipe sem esse tipo de cena.

    A depender do que a primeira subordinada disser, será hora de decidir se você precisa ou não conversar com a outra executiva. Ou, ainda melhor, faça com que a chefe direta dela lide com o assunto em sua presença. Faça cara de impaciente e de entediado o tempo todo.

    E, por fim, aprenda algumas lições.

    Abandone a avaliação anual. Ela não tem utilidade. Em seguida, abandone o código de vestimenta. Você se queixa de que o de sua empresa é vago, mas quando o UBS tentou impor um código de vestimenta mais rigoroso –sugerindo que o pessoal usasse roupas de baixo da cor da pele–, foi um escarcéu.

    Em lugar disso, instrua os subordinados a que se vistam de maneira profissional, e isso basta. Caso as pessoas não compreendam a norma, talvez devessem procurar emprego no Google, cujo código de vestimenta é ainda mais simples de entender: você precisa trabalhar vestido.

    Tradução de Paulo Migliacci

    lucy kellaway

    Escreveu até julho de 2017

    É editora e colunista de finanças do 'Financial Times'.

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