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    Lucy Kellaway

    Opinião: Perguntas e respostas sobre problemas no trabalho

    LUCY KELLAWAY
    DO "FINANCIAL TIMES"

    05/08/2013 12h01

    Devo desistir de meu emprego seguro e entediante para abrir meu próprio negócio?

    Sou consultora empresarial há três anos. Aprendi muito e conheci pessoas incríveis, mas não é isso o que quero fazer com minha vida.

    Sei que quero abrir meu próprio negócio; tenho muitas ideias, mas não tenho tempo para trabalhar com elas. Sei também que não tenho economias nem pais ricos, apenas pessoas que acreditam em minha criatividade.

    Estou entediada aqui e sinto que a vida está me deixando para trás. Será que devo deixar meu emprego e abrir alguma coisa nova, começando do zero, ou devo continuar aqui até... até o quê, exatamente?

    Consultora, 27 anos.

    O conselho de Lucy

    Está claro que você precisa de um jeito de sair do tédio da consultoria, embora não esteja claro, de maneira alguma, se você possui perfil de empreendedora.

    Para começar, me preocupam essas "muitas ideias" que você afirma ter. Para abrir um negócio, muitas ideias são um problema, porque atrapalham. Você precisa de apenas uma ideia realmente boa. E então precisa investir tudo nela.

    Também acho preocupante o fato de você não ter tempo para pesquisar as ideias. Por que não? Ser empreendedor é uma vocação, um modo de vida e uma obsessão. Se essas ideias a fascinam, elas devem estar "pedindo" para ser pesquisadas.

    Minha preocupação seguinte é o fato de você não ter economias. Depois de três anos como consultora, deve estar ganhando bem. Então, se ainda não conseguiu economizar nada, isso sugere que você está interessada demais nas coisas que pode comprar com seu salário.

    Acima de tudo, me preocupa a irrealidade de você dizer que as pessoas acreditam em sua criatividade. Criatividade é o menos importante quando se trata de ser empreendedor bem-sucedido; há uma distância muito grande entre as pessoas a parabenizarem por você ser tão criativa e as pessoas tirarem o talão de cheques do bolso.

    A única coisa em sua situação que constitui indício positivo é o fato de não ter pais ricos. Não há nada que mate o espírito empreendedor mais que nascer rico. A necessidade de ganhar dinheiro concentra a mente.

    O que eu sugiro é que você fique onde está pelos próximos seis meses e dedique cada segundo livre para apurar suas ideias até reduzi-las a apenas uma ideia boa. Durante esse período, pare de gastar e viva como pobre. Se, ao final desse tempo, você já tiver um plano apropriado e não se incomodar em viver com simplicidade, será sinal de que é hora de pedir demissão.

    Se, contudo, ao final de seis meses você ainda estiver incerta, então precisa de um jeito diferente para sair de sua situação. Por que não aderir a uma start-up pequena na qual possa sentir-se criativa e engajada, mas sem assumir os riscos?

    Pense nisso: você realmente quer seu próprio negócio? Ou apenas quer um emprego mais interessante?

    SEUS CONSELHOS

    A prova dos noves

    Uma start-up significará que você não terá receita alguma por mais tempo que imagina. Como não tem economias, você precisa fazer o máximo que puder trabalhando para outros –à noite, nos fins de semana e em suas férias anuais. Se não conseguir encontrar tempo para isso, então não está suficientemente engajada com sua start-up. Sair para beber com amigos ou trabalhar na start-up? Essa é uma prova dos noves decisiva –aplique-a.

    Homem, diretor de uma start-up.

    Faça um MBA

    Você deveria fazer o que fazem outros jovens de 27 anos que não têm ideia do que querem de suas carreiras: um MBA em tempo integral. Durante os dois anos que passará sem trabalhar, poderá explorar suas ideias para start-ups com outras pessoas que pensem como você; talvez até faça alguma coisa deslanchar, com o apoio da faculdade. Mas se achar que isso é mais uma fantasia que outra coisa, estude outras alternativas.

    Anônimo, homem.

    Dê um salto

    Eu comando uma firma de coaching profissional via Skype desde o Malauí, trabalhando principalmente com pessoas interessadas em sair da City (de Londres). Eu era "headhunter" (caça-talentos) e dei o salto em 2009. Não olhei mais para trás. Não recebi dinheiro nenhum de fora. Se eu consegui, qualquer pessoa consegue, realmente. Cerque-se de pessoas inspiradoras que tenham montado seus próprios negócios, e você estará a caminho.

    Coach, mulher.

    Construa uma rede de segurança

    Você vai precisar de uma rede de segurança: a maioria dos esforços empreendedores fracassa, e, pela minha experiência, os consultores não são muito bons em fazer as coisas eles mesmos. Poupe dinheiro antes de se lançar.

    Anônimo

    Não seja burro de carga

    Eu abri mão do meu emprego sólido num banco pelos mesmos motivos. O mais difícil é tomar a decisão de partir. Você é jovem e imagino que, como eu, não tenha família nem um financiamento imobiliário enorme para quitar. Aconselho você a fazer, simplesmente. O mundo não vai parar de girar, e você não precisa de tanto dinheiro quanto imagina para se virar. A configuração padrão do tédio corporativo oito horas por dia não é a única vida possível. Não seja burro de carga.

    Empreendedor, homem, 32 anos.

    Continue a ser consultora

    Sua indecisão e falta de consciência de si indicam que você é menos interessante do que pensa. Continue como consultora.

    Anônimo.

    Tradução de CLARA ALLAIN

    lucy kellaway

    Escreveu até julho de 2017

    É editora e colunista de finanças do 'Financial Times'.

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