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    Lucy Kellaway

    A presidente do Yahoo! pode tomar decisões impopulares, mas está certa

    16/11/2015 13h37

    Marissa Mayer é o meu novo modelo. Primeiro, a presidente-executiva do Yahoo! proibiu que os funcionários trabalhassem de casa.

    Agora, de acordo com Kara Swisher, do site Re/code, ela fez todos os altos funcionários prometerem solenemente que ficarão na empresa de três a cinco anos. Além disso, recentemente fez todos se vestirem como os personagens do filme "O Mágico de Oz" para uma sessão de fotos que Swisher diz ter custado US$ 70 mil.

    Sei que muitas pessoas não gostam de Mayer. Os acionistas do Yahoo! não podem simpatizar muito com ela, uma vez que o preço das ações caiu cerca de um terço este ano. A presidente-executiva também ofendeu uma geração inteira de jovens mães que deploram seu plano de retornar ao trabalho imediatamente após o nascimento de suas gêmeas.

    Ao menos em relação a essa última questão, suas detratoras estão sendo bobas. A duração do período de licença-maternidade de uma mulher poderosa não deve interessar a ninguém. Se ela quer passar muito tempo cuidando de seus filhos, tudo bem. Se quer disparar e-mails da sala de parto, tudo bem também – desde que não force os outros a fazerem o mesmo.

    A razão pela qual gosto tanto dela é que Mayer toma atitudes impopulares muito necessárias no mundo corporativo moderno. A ordem de largar o pijama e ir à empresa foi o corretivo mais importante que já vi este milênio para combater uma vida corporativa permissiva. Trabalhar de casa é ruim tanto para as empresas quanto para os trabalhadores (como escrevi no mês passado) e ela foi corajosa ao interromper essa prática.

    Seu novo esquema para fazer os executivos se comprometerem com o Yahoo! me parece, ao mesmo tempo, ousado e na medida do necessário. Quando a história foi noticiada, na semana passada, meus colegas do FT reagiram com desprezo e disseram que o movimento era consequência do desespero, uma forma pateticamente fraca de tentar impedir os ratos de deixarem o navio.

    Eles afirmaram que promessas não valem nada e, de qualquer forma, é improvável que a própria Mayer ainda esteja no posto em três ou cinco anos. Portanto, ela não está em posição de arrancar promessas de longo prazo de ninguém.

    São argumentos fortes, mas ainda acho que ela tocou em algo importante que outros presidentes-executivos deveriam copiar. Na maioria das empresas e, em particular, no Vale do Silício, as pessoas mudam de emprego a cada minuto em que surge algo melhor. Isso pode ser bom para elas, mas não é maneira de gerir uma empresa.

    O movimento de Mayer traz de volta uma ideia que havia se perdido: a de que os executivos têm certa obrigação de completar as tarefas que começaram.

    Para mim, parece perfeitamente óbvio que, se você é um CEO tentando fazer grandes mudanças e tem uma equipe de executivos bem pagos destinados a ajudar, precisa fazer tudo para mantê-los na empresa. A maneira usual é dar a eles ações em que não podem botar as mãos por três anos – uma manobra que consegue mantê-los, mas à custa de uma lealdade cada vez menor. Se você está preso pelo dinheiro, isso se sobrepõe a todo o resto.

    A promessa de Mayer é um bom começo, mas, para que tenha alguma chance de dar certo, tem que ser uma via de mão dupla. Se ela tem bom senso, terá feito cada executivo acreditar que sua contribuição foi absolutamente vital para o sucesso do projeto e prometer que, aconteça o que acontecer, não vai demiti-los.

    É claro que tais promessas são todas muito bonitas. A palavra de ninguém é mais um compromisso real – qualquer um dos lados pode quebrá-la, se quiser, e sem dúvida, alguns o farão. Mas isso não torna as promessas inúteis. Elas definem expectativas e se estabelecem sobre a pressão moral – o que significa que quando forem quebradas, haverá um coro perfeitamente adequado de desaprovação.

    E este é o poder da coisa. Promessas podem estar fora de moda, mas os seres humanos nunca gostaram - e não gostam – de se sentirem desaprovados.

    Justificar o terceiro movimento de Mayer - fazer toda a sua equipe sênior se vestir como os personagens de "O Mágico de Oz" em um teatro ridículo e caro – é um pouco mais complicado.

    Diversão por decreto é uma das coisas mais sombrias da vida corporativa, e este é um exemplo particularmente terrível. A imagem de Mayer ameaçadora com a peruca marrom de Dorothy é o retrato corporativo mais constrangedor que já vi.

    Mas em uma inspeção mais minuciosa, isso também acaba sendo um golpe de mestre, pelo efeito motivacional que certamente tem nos 11 mil funcionários da empresa. Fotos de seus chefes submetidos a uma humilhação ritualística podem servir como um para-raios útil. Quando sentimos raiva, o que é melhor do que vê-los como leões covardes, homens de lata e meninas de trancinhas do Kansas?

    Este benefício pode ou não ter sido o objetivo da sessão de fotos de US$ 70 mil. Mas não importa. Eu me comprometi com Mayer como meu novo modelo, serei fiel a ela e vou até o fim - desde que ela o faça.

    Tradução de MARIA PAULA AUTRAN

    lucy kellaway

    Escreveu até julho de 2017

    É editora e colunista de finanças do 'Financial Times'.

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