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    Lucy Kellaway

    Dez regras para compor um bom perfil no LinkedIn

    04/04/2016 13h03

    Demorei 13 anos e 414 milhões de pessoas chegaram na minha frente. Mas, na semana passada, por fim criei o meu perfil no site de networking LinkedIn. O bom de ter chegado tão tarde é que tudo que você precisa fazer é descobrir uma pessoa que tenha dominado essa forma de conteúdo, e copiá-la.

    Minha primeira parada foi o texto escrito por uma pessoa que, espero, se torne em breve a mulher mais importante do mundo.

    O perfil de Hillary Clinton diz: "Mulher, mãe, avó e defensora das crianças. Primeira dama federal e do Arkansas, senadora, secretária de Estado, apreciadora de cachorros, ícone dos penteados, adepta dos terninhos, candidata à presidência em 2016".

    Será piada? Será que a antiga primeira-dama realmente acredita que seu papel como avó (que pelas minhas contas é exercido por outros 35 milhões de mulheres só nos Estados Unidos) interessa mais aos usuários do LinkedIn do que sua chance de conquistar a Casa Branca? E quanto aos cachorros e aos terninhos, posso entender que esteja tentando parecer bem humorada, mas não funciona. Não vou copiar Hillary, mas ela me ensinou minhas duas primeiras lições quanto à tarefa: nada de piadas e se apegue ao objeto do exercício.

    Em seguida, li o currículo de Reid Hoffman. Já que fundou o LinkedIn, ele realmente deveria saber como executar a tarefa. O texto começa: "Todos os aspectos da Internet e software ao consumidor. Foco em desenvolvimento de produtos, inovação, estratégia de negócios e finanças. Mas inclui gestão em geral, operações, operações de negócios, desenvolvimento de negócios, gestão de talentos e marketing." Desisti depois da primeira dúzia de palavras, mas Hoffman pelo menos me ensinou a lição número três: não entedie o leitor.

    Depois disso, saltei de perfil a perfil, e descobri que ninguém faz ideia de como escrevê-los. Alguns resumos são maximalistas e outros minimalistas. Ariana Huffington estica um texto já longo com um parágrafo inteiro sobre todos os programas de TV de que já participou, de "Charlie Rose" a "O'Reilly Factor". Outra lição: não seja autocomplacente.

    Bill Gates, por outro lado, tem um sumário bem curto. "Copresidente da Fundação Bill e Melinda Gates. Presidente do conselho da Microsoft. Leitor voraz. Viajante ávido. Blogueiro ativo". Ele nos oferece a lição número cinco: você só ganha o direito de mencionar seus hobbies se fez deles a sua vida, como Gates.

    A falta de consenso não é exclusividade do tamanho do texto, mas também é válida para algo de ainda mais básico: escrever em primeira ou terceira pessoa? Quase todas as grandes figuras dos negócios optam pela terceira, e colam suas biografias oficiais: "Jack Welch é um dos presidentes-executivos mais celebrados e respeitados do planeta, conhecido por um histórico incomparável de sucesso, enorme amor pelas pessoas, feroz paixão por vencer, e desejo incontido de mudar o mundo para melhor..." Do antigo líder da GE, extraio as lições seis e sete: a terceira pessoa é rígida demais para um site de rede social. E ficar se vangloriando desse jeito é mais do que apenas flagrante: é quase fraudulento. Histórico incomparável? Enorme amor pelas pessoas? Quem é que está dizendo tudo isso?

    David Cameron, em contraste, opta pela primeira pessoa. "Tornei-me primeiro-ministro do Reino Unido na eleição geral de maio de 2010", ele diz no início do texto, com simplicidade. "Sou casado com Samantha e temos três filhos pequenos, Nancy, Elwen e Florence".

    Isso estabelece a regra número oito, segundo a qual você só pode mencionar sua família no LinkedIn se for primeiro-ministro, caso no qual sua desafortunada mulher e filhos se tornam parte do pacote. Em qualquer outra circunstância, deixe-os de fora.

    Todas essas pessoas famosas têm tarefas fáceis, porque já sabemos quem são elas, enquanto nós, os demais, precisamos tentar cavar um espaço. Steven Burda, um consultor desconhecido, se tornou o homem mais conectado do site em 2013 ao escrever um currículo que dizia "movo montanhas... um dia dominarei o mundo. Para mim, nada é impossível". Isso me conduziu à regra número nove: um monte de gente no LinkedIn parece sonsa.

    A única coisa sobre a qual estou segura é o título: vou usar meu cargo no "Financial Times". Se alguém pensa que isso é muito chato, rebato com o horror composto por um importante executivo financeiro do Lloyds: "Plantador astuto com fortes comportamentos de negociador adaptativo".

    Quanto ao resto do texto, continuo em dúvida. Mas pode ser que isso aconteça porque não sei para que o site serve. Algumas pessoas o usam para encontrar empregos. Outras o usam para formar conexões - mas algumas não fazem nem isso. Michael Dell concluiu seu currículo em terceira pessoa com um apelo em primeira pessoas: "Por favor, não peça para se conectar a não ser que tenhamos trabalhado juntos".

    Para ele, o site não serve para conexão, mas para demonstrar empáfia. Nesse caso, há maneira melhor de fazê-lo: não ser parte do LinkedIn. Recusar fazer parte do LinkedIn é uma postura mantida pela rainha Elizabeth 2ª, o Papa, o editor do "Financial Times" - e por um homem que espero sinceramente não se torne o mais importante do mundo: Donald Trump.

    lucy kellaway

    Escreveu até julho de 2017

    É editora e colunista de finanças do 'Financial Times'.

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