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    Luiz Horta

    Testando hipóteses com vinhos e boas carnes na Figueira Rubayat

    12/11/2016 10h00

    Gabriel Cabral/Folhapress
    O ambiente da Figueira Rubayat, nos Jardins
    O ambiente da Figueira Rubayat, nos Jardins

    Tenho uma regra, minha versão para o aforisma grego "conhece-te a ti mesmo". Adoto o "ouça o seu maitre" –que pode ser trocado por "ouça seu sommelier" ou usado para ambos, depende do momento.

    Quando você encontra um profissional como o Souza, da Figueira Rubayat, que passa a confiança de quem está totalmente no controle da situação, e ele diz: "Recomendo o baby-beef", não duvide.

    Não fui ao restaurante comer carne, acredite, mas checar uma hipótese. Em viagens recentes a Portugal, fui constantemente aconselhado a provar carne mal passada com vinho do porto.

    Mas não com todos estes maravilhosos vinhos fortificados, só com os chamados LBV. A sigla significa "late bottled vintage", um vinho de ano extraordinário (os classificados como vintage e que trazem a safra estampada no rótulo) só que engarrafado mais tarde, exatamente dois anos depois de sua produção.

    Eles passam 24 meses na maciota dos barris de carvalho, ficando mais redondinhos. O processo faz que se pareçam mais com um jovem vinho tinto de mesa –logo, mais apropriados para acompanhar comida.

    Tudo fazia sentido, ainda mais tendo nascido de uma ideia de Rolf Niepoort (pai do furacão do Douro, o inventor de vinhos Dirk Niepoort), que "inventou" a combinação bebendo o vinho com um steak au poivre.

    Escolhi fazer o teste na Figueira por admirar sentar debaixo da árvore, num canto, e assistir ao que chamo de"cozinha de hotel sem hotel". Centenas (é verdade) de funcionários em atividade servindo centenas de clientes, num ritmo que poderia ser de comédia pastelão, mas é de Boeing de ultima geração em velocidade de cruzeiro.

    As carnes vieram perfeitas, sanguinolentas e, então, provei o vinho. Os LBV têm mais acidez, algo de taninos. São portos para beber mais rápido e permitem essas brincadeiras com comida, mesmo com o adocicado típico deste tipo de fortificado.

    Um vinho assim tem 20 volumes de álcool, ninguém vai tomar uma garrafa inteira numa refeição. Mas uma taça bem servida com um bifão ia dar certo, repeti, querendo acreditar. Não deu. Funciona, só que não é necessário; nem ótimo, nem errado.

    Há tantos tintos para isso e várias outras maneiras de beber portos (eu invento uma todo dia). Coloquei a taça de lado e apelei para o Gilmar, na segunda versão do meu lema –"ouça seu sommelier".

    Por sorte, o restaurante está incentivando a amizade com os vinhos. No começo de toda semana, acontece a Amo Vinho: Gilmar, que é sommelier chefe do grupo, e Belarmino Iglesias escolhem 12 rótulos da enorme carta e colocam em promoção generosa. Já teve até Alión pela metade do preço. Bebi um Rioja que, este sim, foi grande amigo para a carne.

    Para não perder o porto, comi uma inesperada tarte tatin, deliciosa, coisa que nem sabia que existia lá. E fica a moral da história: em caso de verificação de hipóteses, seja científico: aceite os resultados das experiências.

    Figueira Rubayat
    Onde Rua Haddock Lobo, 1738, Jardim Paulista, tel. 3087-1399.
    Quando seg. a qui. e dom., das 12h à 0h; sex. e sáb., das 12h à 0h30.

    Divulgação

    Vinhos da semana

    Conde de Valdemar Tempranillo, Mistral (R$ 96)
    Vega Sauco Piedras, Ravin (R$ 87)
    La Vieille Ferme Rouge, World Wine (R$ 69)
    Menguante Garnacha, Grand Cru (R$ 61)

    luiz horta

    Viajante crônico e autor dos livros eletrônicos 'As Crônicas Mundanas de Glupt!' e 'Vinhos que cabem no seu bolso'. Escreve aos domingos.

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