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    Luiz Horta

    Única coisa fundamental para apreciar bem um vinho é a temperatura

    11/12/2016 02h00

    O homem é o único animal que se preocupa com a bebida que vai bem com sua comida. Uma perda de tempo danada. Devia se preocupar mesmo é com a temperatura do que bebe.

    Claro que um vinho mais adequado com o que se está comendo é melhor. Sou apreciador deste debate, que gera sempre boas discussões e experiências. Quem não gosta de provar mais um queijo com outra tacinha de vinho e emitir uma opinião? Mas o mundo pode viver sem isto perfeitamente bem.

    Quero falar do que realmente conta no prazer de beber vinhos. Taça? São bonitas, algumas mais finas, luxuosas, de alto preço. Afetam a bebida? Sim, mas podemos viver sem elas na maior parte do tempo, reservando-as para vinhos e momentos notáveis.

    Grandes teorias sobre combinação com comida? Também são bacanas, divertidas, mas é mais um jogo do que uma necessidade. Adegas, saca-rolhas complicados, gadgets para aerar, decantadores, corta-gotas? Se você tem espaço sobrando em casa e dinheiro sobrando na conta, é um hobby como qualquer outro.

    A única coisa realmente definitiva, fundamental e básica para que um vinho seja bem apreciado é relativamente simples: a temperatura. Um vinho na temperatura errada é horrível e leva embora todas as suas virtudes.

    Não estou sugerindo a compra de termômetros a laser nem uma obsessão pelo assunto. Qualquer mania que interrompa a simples fruição da comida sendo consumida com vinhos é um aborrecimento a ser evitado.

    Uma tabela informará: sirva os brancos a 11°C, por exemplo. Mas quem vai passar o tempo todo medindo? O importante é ter bom senso. E ele pode vir de um teste simples.

    Proponho uma brincadeira: compre um branco e um tinto, gele bastante em casa, no máximo antes de congelar. Abra e sirva duas taças, uma de cada. Vá provando e anotando as sensações, na medida em que o ambiente aquece os líquidos.

    Ocorrerá um momento, diferente para cada um, em que a temperatura ideal será alcançada. Os vinhos ultragelados estarão sem aromas, quase sem sabor, e, aos poucos, se destacará a acidez e os taninos. Então, na temperatura ideal, dará para sentir que estarão equilibrados, dando prazer de beber. Quando passarem desse ponto (bem frio para os brancos, frio para os tintos), começarão a ficar mais pesados e o álcool aparecerá.

    Se quiser levar a experiência a extremos, esquente os vinhos um pouco no micro-ondas. Eles estarão xaroposos, já não matarão a sede. Tem um clichê: não beba sorvete de brancos nem sopa de tintos.

    Na dúvida, passe todos pela geladeira e beba sempre mais gelados do que tem hábito. E brigue, sim, no restaurante, para que resfriem seus tintos. Todo vinho ganha com um mergulho no balde de gelo.

    E que vinhos?
    O ideal para um teste assim é um vinho que se conheça bem: seu vinho, aquele que aparece mais na sua mesa, pois você já tem um conhecimento sobre ele. Ou então um bom vinho fácil de achar, que com preço bom seja ótimo para beber, pois a brincadeira da temperatura certa precisa acabar em festejo. Não vale um vinho caro, nem um que vá virar molho. Eu escolheria, só como sugestão, os Periquita, branco e tinto. Eles têm o perfil ideal para a experiência.

    luiz horta

    Viajante crônico e autor dos livros eletrônicos 'As Crônicas Mundanas de Glupt!' e 'Vinhos que cabem no seu bolso'. Escreve aos domingos.

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