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Polska295, em Pinheiros |
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Colunistas
Saturday, 04-May-2024 15:08:06 -03Luiz Horta
A cozinha da nutrição veloz: antes que o frio ou o inimigo chegassem
07/05/2017 02h00
A comida do leste europeu não é muito presente aqui. Há pratos isolados, um ou outro restaurante (preciso pesquisar mais, ainda me devo um húngaro) e só. Uma amiga me recomendou os pierogi (o singular é pierog, pesquisei) do Polska295 —Polska sendo Polônia em polonês (saiu uma frase um pouco óbvia).
A especialidade do lugar são os pierogi, espécie de cappelletti com recheio de batata (meu favorito) e, por cima, deliciosa cebola frita até a caramelização. Gosto muito do prato, comida popular, simples, reconfortante. Comida "pobre", que esquenta no inverno.
Bruno Santos/ Folhapress Pierogi de carne Tenho umas fantasias que misturam leituras de Milan Kundera com filmes da guerra fria, um inverno daqueles cinzas em Varsóvia, Bratislava ou Praga e um café art nouveau fantástico, exuberante, mas meio decadente pelo descaso dos anos da cortina de ferro. É lá que vou, na imaginação, tomar meu shot de vodca, meu borscht quentinho e um prato fumegante de pierogi de batatas.
Alan Davidson, autor que sabia tudo de comida, no seu "The Oxford Companion to Food", diz que pierogi são tão comuns na Rússia quanto a literatura e estica sua presença para toda a Europa Oriental. Essas coisas são transnacionais, até pela infeliz mudança constante de fronteiras que aquela região passou no século passado.
Dá para fazer uma refeição toda só com eles. Comi o de batatas, o de carne e o de repolho com cogumelos. De sobremesa, comi...pierogi de maçã!
Bruno Santos/ Folhapress Pierogi de maçã Vou levantar umas raivas contra mim, mas não existe exatamente uma gastronomia polonesa. Há essas massas, algumas sopas, carnes assadas e tortas variadas. Países com clima adverso, que lidam com poucos produtos locais, uma cozinha de grãos e do que há e muita luta para sobreviver. Não surpreende que seja ali a origem da cozinha askenazy, a vertente da comida judaica do leste, com seus vareniques de batata (exatamente os pierogi), sopas translúcidas de caldo de galinha com bolinhas de matzo: cozinha de imigrantes, proteica, calórica, mas simples e de fácil execução.
Não dá para evitar a palavra "guerra" quando se fala do que se come na Polônia. A estabilidade palaciana com imensas cozinhas e tempo para elaborar pratos complicadíssimos resultaram na gastronomia francesa (e na italiana). Essa cozinha da pressa, da nutrição veloz antes que o frio ou o inimigo chegassem, deu nessa maravilhosa massinha com recheio. A tese nada científica é inteiramente minha, não precisa ser levada muito a sério.
Agora espero dos leitores desta coluna, que podem escrever para o e-mail da revista, sugestões de onde encontrar boa comida húngara. Abram suas cadernetas de endereços, agradeço.
Polska295
onde: r. Simão Álvares, 295, Pinheiros, tel. 3360-8090.
quando: seg., das 11h às 22h; ter. a sáb., das 10h às 22h.*
Lado leste
Ainda não existe vinho polonês, que eu saiba. Não riam, com as mudanças climáticas coisas diferentes vêm ocorrendo. A Alemanha produzindo bons tintos, um vinho dinamarquês que provei em Copenhague (e era gostoso) e a maior surpresa, os espumantes ingleses, excelentes. Tem a piada que no futuro Bordeaux será na Suécia, pois o calor aumenta ao norte da Europa.Mas ainda não há vinho na Polônia. Para compensar, diversos países do leste europeu produzem bons rótulos, os Pinots da Búlgaria já foram muito famosos e estão voltando a ter qualidade. Os da Geórgia são ótimos, os da Ucrânia estão em ascensão. A Eslovênia é mais parte da região de influência mediterrânea que estou citando, mas já pode ser considerada um dos grandes produtores de vinhos de qualidade. E, deixei para o final, a Hungria, sempre notável por seus Tokajs, vinhos doces de excelência.
Ouse uma uva
Tudo muito bonito isso aí acima, mas tudo é difícil de encontrar e as garrafas são muito caras. Optei por algo que me dá prazer e combina com a comida: Merlot, uva que se tornou símbolo aqui da serra Gaúcha, onde são produzidos vinhos macios, "aterciopelados" (não resisto, essa palavra tão cheia de textura, vinhos aveludados). A qualidade aumentou muito e hoje há uma denominação de origem, o vale dos Vinhedos (que aparece nos rótulos como D.O.).*
Vinhos da semana
(1) Almaúnica Reserva Merlot D.O., R$ 93,50. (2) Don Laurindo Reserva D.O., R$ 75. (3) Guatambu Rastros do Pampa Merlot, R$ 54,50. (4) Fausto de Pizzato Merlot, R$ 49,50. Todos em vinhosevinhos.com.
*valores de referênciaViajante crônico e autor dos livros eletrônicos 'As Crônicas Mundanas de Glupt!' e 'Vinhos que cabem no seu bolso'. Escreve aos domingos.
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