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    Luiz Horta

    Restaurante Tordesilhas permite sobrevoo por toda a comida brasileira

    21/05/2017 02h00

    Helena Peixoto/Folhapress
    Sao Paulo, SP, Brasil. O Melhor de SP. Restaurante Tordesilhas. Bairro Jardim Paulista. Chef: Mara Salles. prato: Pato ao Tucupi. foto: Helena Peixoto/folhapress. ***EXCLUSIVO REVISTA SAO PAULO*** *** DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM *** ***EXCLUSIVO PARA ESPECIAIS MELHORES BARES E RESTAURANTES ***
    Pato no tucupi do Tordesilhas, da chef Mara Salles

    Se o tipo de vinho a ser bebido com certos pratos é consensual, quando se trata de comida brasileira está mais no campo dos desacordos. Pergunte no meio de enófilos e entusiastas do vinho, inocentemente, como quem não quer nada: "O que combina com feijoada?". E prepare-se. Você acaba de apertar o botão do juízo final —e vai assistir a uma polêmica.

    Para cada dez pessoas, obterá, no mínimo, uma dúzia de respostas. As pessoas discordam delas mesmas. É fácil entender a dificuldade. Vinho na nossa mesa, com tanta variedade como agora, é coisa recente. E a descoberta de outras cozinhas brasileiras também. Antes, tínhamos uma prateleira com 30 ofertas e comíamos o trivial. A vida era básica, regionalizada. Quem não morava na Amazônia não comia nada de lá, nunca.

    Volto à feijoada. Cada vez que provo o prato, repenso sobre minhas certezas. Já a considerei como sendo uma panela de feijões e carne de porco, com alguma gordura. Nessa tentativa de redução aos ingredientes, para tirar a complexidade da escolha, elegi um Riesling. Depois, mudei de opinião e passei para um espumante, como foi moda. Mas pensei melhor e escolhi um tinto encorpado. Na verdade, ainda não sei, e por sorte não comi feijoada no Tordesilhas, tema desta coluna —ou teria pedido uma caipirinha.

    Eu gosto de voltar sempre ao Tordesilhas. Ele é o Brasil compacto, dá para fazer um sobrevoo por toda a comida brasileira. E também dá para testar os vinhos com seus maiores desafios na culinária nacional. A tarefa é longa e está em aberto: pato no tucupi, vatapá, bobó de camarão, barreado... Tudo está lá e tudo ainda espera um acordo mais definitivo sobre suas companhias quase ideais.

    Vale reafirmar: não há obrigação de acompanhar tudo com vinho. Há uma 'harmonizite' vigente, uma mania de harmonizar (palavra que odeio) tudo com vinho (que está declinando um pouco, felizmente). É espetinho e vinho, cachorro-quente e vinho, pastel... Para quê? Há muitas possibilidades líquidas com diferentes pratos, e ter vinho em tudo soa até um pouco ridículo. Há o momento para o refrigerante, no balcão em pé, com uma empada.

    No meu jantar recente no Tordesilhas, comi bobó de camarão e belisquei os pratos dos meus acompanhantes: um pirarucu grelhado e um pato no tucupi.

    Bobó de camarão é até fácil com vinho. Tem a doçura ligeira do coco, a textura dos camarões, a leveza do tempero da Mara Salles (sem dendê demais, sem pimenta demais) e eu corro para a segurança de um Chardonnay com madeira, meio encarando o bobó como um creme marinho enriquecido pelos temperos.

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    O tacacá, o tucupi
    Se o bobó é relativamente fácil de combinar, há os pratos bem problemáticos. Cito dois: o tacacá e o pato no tucupi. O tacacá é comida de rua. Provei muitas vezes em Belém (PA), e lá ele faz todo o sentido: um prato que faz suar alivia o calor. E o tacacá já é suficientemente líquido, não sendo preciso consumi-lo com acompanhamento algum. Já o tucupi amortece levemente a boca (pela ação do jambu), e este palato semi-adormecido será despertado por um vinho picante e ácido, como um Sauvignon Blanc cristalino e leve. Como o restaurante tem foco em vinhos nacionais, escolhi alguns Sauvignons brasileiros. Infelizmente, a distribuição é um problema no Brasil. Não é muito simples encontrar vinhos brasileiros (que coisa surreal!).

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    A água
    Não posso deixar de transmitir uma alegria que tive no Tordesilhas: água com gás Cambuquira. Considero uma das melhores do mundo. Ela é logo ali do sul de Minas, daquela coleção de pequenas estâncias hidrominerais, mas são raras nas prateleiras -outro mistério brasileiro que não sei resolver. Meu conselho é que bebam esse tesouro, de bolhinhas finas. É uma água maravilhosa.

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    Tordesilhas
    Onde: al. Tietê, 489, Cerqueira César, tel. 3107-7444.
    Quando: ter. a sex.: 18h à 1h. Sáb.: 12h às 17h e 19h à 1h. Dom.: 12h às 17h.

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    Vinhos da semana
    (1) The Young Airhawk, R$ 93 (wine.com.br)
    (2) Almaúnica Reserva Sauvignon Blanc, R$ 89 (Vinhos e Vinhos)
    (3) Dal Pizzol SB, R$ 60,25 (Vinhos e Vinhos)
    (4) Bueno Bellavista SB, R$ 35 (Vinhos e Vinhos)

    luiz horta

    Viajante crônico e autor dos livros eletrônicos 'As Crônicas Mundanas de Glupt!' e 'Vinhos que cabem no seu bolso'. Escreve aos domingos.

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