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    Luiz Horta

    Existe em SP o restaurante de família tão sonhado em viagens europeias

    12/11/2017 02h00

    Tadeu Brunelli/Divulgação
    Cebola cremosa na própria casca da Osteria del Pettirosso
    Cebola cremosa na própria casca da Osteria del Pettirosso

    Uma lenda urbana é o restaurante com o marido na cozinha, a mulher no salão e a família dando uma força. Um amigo meu diz que sempre recomendam a ele um estabelecimento assim, quando viaja para a Europa, e se dá mal seguindo o conselho. Um dos problemas é que são restaurantezinhos que entram em férias no verão, só para citar um item curioso, além dos conflitos pessoais ao vivo.

    Aqui na metrópole, com o número de funcionários que cada restaurante tem, é quase inexistente esse tipo de organização. Mas o unicórnio existe, chama-se Osteria del Pettirosso e funciona muito bem. O casal Renzetti (Marco e Erika) se conheceu na Bolívia, onde teve restaurante com nome igual ("pettirosso" quer dizer pintarroxo, o passarinho de peito rubro-alaranjado).

    Fiz uma refeição preparada pelo chef e com vinhos muito bem sugeridos pela dupla, com a mulher atuando de sommelière. Eles usam o sistema coravin, de serviço em taças. Para quem não conhece, é um aparato que retira da garrafa, perfurando a rolha com uma espécie de agulha, a dose que se queira, sem deixar que entre oxigênio (a traquitana injeta um gás inerte no espaço esvaziado). Isso amplia a variedade do que se pode beber numa refeição.

    A um romano como Marco minha primeira curiosidade foi perguntar como conseguia o sabor delicioso no molho de tomates, sendo os disponíveis no mercado (pelo menos os que compro) de sabor entre papelão e nada. Ele produz várias coisas num sítio, mas para os tomates usa um truque, reduz longa e demoradamente apenas a água deles, o molho fica intenso e adocicado, com gosto e excelente.

    Igual cocção demorada é a que faz em uma cebola que se come às colheradas na própria casca, uma sopa cremosa de cebola em seu involucro.

    Comi também um tartare delicioso (desculpe, carne cruda) com uma folha de cavolo nero (algo como um repolho negro) desidratada, que funciona como o crocante para a preparação. E um peito de pato estupendo, além de bem temperado, na exatidão do ponto sanguinolento e suculento.

    Os vinhos, todos naturais (falo disso nos destaques), foram pontuais. Eu tenho diminuído minha participação em menus-degustação harmonizados porque costumam ser longos, enfadonhos e com combinações nada surpreendentes. Exceto quando são bons, e foi o caso.

    Erika me apresentou uma Malvasia eslovena, um Pinot Noir alemão, um fabuloso Riesling alsaciano de Ostertag, um Morgon e um do Roussillon, o Domaine de Majas, aquelas combinações de Carignan e Grenache que dão tão certo por lá. E um passito chamado Sol do produtor Cerrutti. Conhecia só dois dos vinhos e isso é que eu chamo alegria, descobrir.

    OSTERIA DEL PETTIROSSO
    Onde: al. Lorena, 2.155, Jardim Paulista, tel. 3062-5338.
    Quando: dom., das 12h às 16h30; de ter. a qui., das 12h às 15h e das 19h às 23h; sex., das 12h às 15h e das 19h às 23h30; sáb., das 12h às 16h e das 19h às 23h30.

    *

    Os vinhos naturais

    Todo mundo entende o que seja orgânico, nessa altura em que a palavra aparece em tudo. Mas vinho natural ainda causa estranheza, afinal vinho é mosto (o nome técnico para o suco da uva) fermentado, então deveria ser sempre natural, não? Claro que não.

    O movimento surgiu na Europa já umas décadas atrás, defendido por vinhateiros que recusavam o uso de pesticidas e fertilizantes mas também qualquer coisa, até mesmo orgânica, que alterasse os seus vinhos. Há muita discussão a respeito, um dos poucos consensos sendo que os vinhos naturais não levam sulfito na hora de engarrafar. Para entender melhor, é o mínimo de intervenção humana na feitura da bebida.

    Já tomei grandes vinhos e coisas imbebíveis com o título de natural, mas o mesmo ocorre com os demais vinhos, há vinho bom e vinho ruim.

    O restaurante Enoteca Saint Vin Saint realiza anualmente uma feira concorrida, a "Naturebas", e na última edição conheci um francês, Yves Pouzet, que faz dois vinhos, Tipaume e Tipaume Grez.

    O segundo produzido em ânforas. São excelentes.

    Como todo movimento de pequenos produtores, não é tão fácil achar os vinhos e não costumam ser baratos —a escala com que trabalham é complicada. A carta do Pettirosso é basicamente toda de vinhos naturais ou orgânicos. Pedir uma taça lá pode ser boa maneira de entrar nesse mundo novo.

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    Divulgação
    Vinhos da Semana - 12/11/2017

    Vinhos da semana

    (1) Tipaume Grez, R$ 210 (Santiago Vinhos).
    (2) Peyrouzelles, R$ 145 (Garrafa Livre).
    (3) Il Secondo di Pacina, R$ 138,04 (Piovino).
    (4) Je t'aime mais j'ai soif, R$ 85 (de la Croix).

    • valores de referência
    luiz horta

    Viajante crônico e autor dos livros eletrônicos 'As Crônicas Mundanas de Glupt!' e 'Vinhos que cabem no seu bolso'. Escreve aos domingos.

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