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    Luiz Horta

    No Natal, uma taça de vinho do Porto é melhor que um post nas redes sociais

    17/12/2017 02h00

    Prometi, num momento de insensatez, uma coluna em que só se beberia vinhos do Porto. Eu já fiz jantares assim, mas não é coisa corriqueira. Falo essas coisas e acho que ninguém prestou atenção ou vai se lembrar. Pois sim, há pedidos para que fale do assunto.

    Vinho do Porto é mais forte que vinho de mesa, pois é fortificado. Sem fazer o chato, bem rápido, explico (quem quiser só comer e beber pode saltar para a parte dois do texto, sem problema).

    PARTE UM

    Os vinhos são uva fermentada, leveduras transformam os açúcares da fruta em álcool (o processo é muito mais complexo, claro, mas o que nos interessa aqui é esta parte). Aos vinhos fortificados se adiciona álcool também feito de uvas (pense numa aguardente, como um conhaque, mas elaborada com esta finalidade, sem passar por madeira).

    Quando o álcool entra, os bichinhos da fermentação não conseguem mais trabalhar. Morrem. A fermentação termina naquele momento. Ou seja, todo o açúcar que ainda restava para ser processado fica no líquido. Por isso, os vinhos do Porto são doces, em diferentes níveis, dependendo do momento em que se detém a fermentação.

    Espero que nenhum enólogo leia isso, estou simplificando ao máximo, porque não é sobre isso que estou escrevendo. O resumo: são vinhos mais fortes em álcool e com mais doçura. A cara do Natal.

    Heloisa Lupinacci/Folhapress

    PARTE DOIS

    Uma ceia só com vinhos fortificados começa com um port tonic, que é uma boa ideia, ainda por cima pelo calor que é nossa festa, um drinque. Uma dose de Porto branco e água tônica, rodela de limão para quem gosta. É o aperitivo.

    Gosto de ceia com tudo na mesa e quem quer vai se servindo do que gosta. Tem que ter panetone claro, chocolate. Depois do port tonic, que consumirei com algo que espero o ano todo para comer (sim, confesso: salpicão de frango desfiado), virão as carnes (pernil e tender, no meu caso).

    Carnes assadas combinam bem com Porto LBV (a safra mais recente engarrafada, são portos jovens, com taninos, e que parecem um pouco com vinhos tintos potentes e encorpados). Esae estilo de Porto difere totalmente dos demais. Uma vez aberta, a garrafa precisa ser consumida logo, em alguns dias. Não são como os que duram bastante depois de abertos, a exemplo dos Tawny, que já são levemente oxidativos e não sofrem com o oxigênio. São também os mais "vinhos" de todos, com os fortes líquidos que saem de lugares muito quentes, como o próprio Douro, e que podem passar por um tinto normal.

    Um amigo me disse que encontra muita resistência para que as pessoas bebam Portos. Ele usa um truque. Coloca num decantador, diz que é um vinho estilo dos amarone e consegue que provem. Que coisa estranha, não? Portos são dos melhores vinhos do mundo e com ótimos preços, mas ficaram com a fama de algo que se bebe um golinho, de vez em quando, em tardes frias com as tias. É preciso desfazer essa ideia.

    Estou virando aquele parente chato que só fala de vinhos durante a comida, desculpem, já deixo o aspecto técnico de lado.

    E para os queijos, justamente um Tawny 20 anos. É o meu Porto favorito entre todos os tipos. Ele é complexo, cheio de camadas para o nariz e para a língua, tem gosto de frutas secas, castanhas, amêndoas tostadas e sozinho já é um Natal em garrafa. Posso ficar com ele para as sobremesas também. Um Tawny mais simples faz o trabalho, mas uma extravagância de abrir um desses, mais caros, justifica-se pela festa.

    Se alguém ainda estiver acordado e com sede, eu acho que um espumante encerra a noite e a festa, só para não ficar monotemático.

    Bom Natal para quem celebra, boas festas para quem prefere essa fórmula e, seja como for, melhor 2018 para todos. Se beber não digite, minha última recomendação. Pensando bem, desliguem os celulares e se desconectem, uma taça de Porto é melhor que um post nas redes sociais.

    *

    Mel e amêndoas

    Quem já começou a comer panetone em novembro (eu, por exemplo) e precisa variar, a recomendação é de um lugar meio remoto para a maioria e que fica esquecido por mim o ano inteiro, até que bate a fome de marzipã: a Marghi, uma fábrica de chocolates fora do eixo.

    Gosto muito de comer turrón espanhol nesta época, tradição valenciana, que são os mais afamados. Há até denominação de origem, mas nem sempre acho nem sempre posso pagar quando acho. As barras de marzipã recobertas de chocolate da Marghi são uma delícia para mais um cálice de Porto e resolvem a carência gulosa por amêndoas. E, estando lá, ainda se pode comprar os melhores pães de mel que conheço, com damascos.

    R. Nossa Senhora do Outeiro, 537, Cidade Dutra, Interlagos, 5666-0877.

    *

    Vinhos da semana

    Divulgação

    Niepoort LBV 2011. R$ 189,81 (vinci.com.br )
    Acróbata. R$ 169 (terruares.com )
    Cuvée Blanche Castel. R$ 50 (bevgroup.com.br )
    Quinta das Tecedeiras Tawny. R$ 130 (winebrands.com.br )

    luiz horta

    Viajante crônico e autor dos livros eletrônicos 'As Crônicas Mundanas de Glupt!' e 'Vinhos que cabem no seu bolso'. Escreve aos domingos.

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