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    Luiz Carlos Mendonça de Barros

    Como navegar nos dias de hoje

    15/05/2015 02h00

    Volto a um tema que tem sido recorrente nas minhas colunas na Folha: como olhar para o futuro em dias de grande turbulência e incertezas como os de hoje?

    Uma das alternativas é centrar a atenção nos chamados dados de alta frequência. São informações que aparecem na mídia, quase que diariamente, sobre inflação, resultados fiscais e uma série de outros indicadores econômicos.

    Quem escolhe essa forma de acompanhar a economia equipara-se a alguém perdido em uma floresta de eucaliptos, tentando encontrar o caminho de volta, olhando apenas para as árvores. Corre o risco de andar em círculo e, depois de muito esforço, voltar ao início de sua procura.

    Outra alternativa é fugir do dia a dia dos canais de informação e procurar identificar as tendências de mais longo prazo que se escondem nos dados de alta frequência. Para tal, o analista precisa desenvolver talentos de outra ordem, que incorporam o conhecimento cientifico e a experiência de momentos passados. Essa é a forma que tenho procurado exercitar neste confuso período do início do segundo mandato da presidenta Dilma Rousseff.

    Desde o começo do trabalho do ministro Joaquim Levy sabíamos que a brusca freada dos gastos do governo –e do crédito dos bancos públicos– nos levaria a uma recessão econômica. Também estava
    claro, para os que compreenderam seus objetivos, que haveria uma inflação corretiva no segmento dos preços do setor público e que a desvalorização do real impactaria os preços de uma grande cesta de preços do setor privado.

    Respondendo a esse choque inflacionário, o Banco Central tornaria sua política de juros mais altos ainda mais agressiva. Afinal a redução da inflação é uma busca evidente no planejamento do governo para recuperar seus índices de apoio popular.

    Como resposta a esse conjunto de medidas, o mercado de trabalho passaria a funcionar com taxas de desemprego bem mais elevadas e com os salários sofrendo perdas reais importantes. Taxas de desemprego muito baixas estavam no centro da aceleração inflacionária dos últimos anos, aliás como ensina a teoria econômica.

    Ou seja, um cenário difícil, com as empresas e instituições financeiras pisando nos breques e reforçando a queda da atividade econômica e dos investimentos. Dois fatores adicionais tornaram o quadro ainda mais perverso: a falta de confiança na perenidade da nova política econômica e o escândalo da Operação Lava Jato.

    Vivemos hoje um período em que a credibilidade no novo caminho trilhado pelo governo cresceu bastante. Esse fator faz com que a eficiência das medidas adotadas aumente e a possibilidade do sucesso do ajuste mude de patamar. O observador mais atento já pode sentir essas mudanças ao acompanhar as cotações das ações na Bovespa e a interrupção na histeria em relação à taxa de câmbio.

    Mantida a disciplina do governo na implementação do receituário prescrito pelo ministro Levy, acredito que essa melhora nas expectativas deva se manter nos próximos meses e que as previsões para o ano novo, que serão feitas no fim de 2015, serão bem mais positivas ao nível macro.

    luiz carlos mendonça de barros

    Escreveu até junho de 2015

    É engenheiro e economista, ex-presidente do BNDES e ex-ministro das Comunicações. É sócio e editor do site de economia e política "Primeira Leitura".

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