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    Luiz Carlos Mendonça de Barros

    O importante e o acessório

    29/05/2015 02h00

    Na minha coluna anterior, procurei estabelecer alguns pontos para orientar o leitor no acompanhamento da crise econômica que vivemos no Brasil. Hoje vou procurar separar o que considero fundamental –em contraponto ao supérfluo– no noticiário da mídia nos dias de hoje.

    É importante entender que a função da mídia não é fazer essa separação, pois seu dever é o de informar os acontecimentos à medida que ocorrem. Cabe ao analista, como eu, procurar exercer essa função de organizar o pensamento do leitor. Pois vamos lá, então.

    A política econômica do governo tem hoje como objetivo central –e prioritário, portanto– reduzir o nível de demanda sobre a economia para diminuir as tensões que se desenvolveram nos últimos anos sobre mercados importantes.

    Essa é a condição necessária para que a inflação volte a caminhar na direção da meta inflacionária de 4,5% ao ano. Não existe hoje outra forma de recuperar o controle sobre a inflação.

    Para alcançar esse objetivo macro, o ministro Levy definiu um plano simples e, se levado adiante, eficiente para devolver ao brasileiro a confiança perdida na estabilidade dos preços. O ponto inicial foi a completa reversão da política fiscal que, até sua chegada ao ministério da Fazenda, tinha como objetivo expandir a demanda via aumentos dos gastos públicos.

    E aqui temos uma primeira observação sobre o que entendo como essencial nesta questão: é a mudança de sinal da política fiscal, e o compromisso com ela ao longo do período necessário para trazer a inflação na direção da meta, que precisa ser acompanhada.

    Já escrevi várias vezes que não considero relevante para o combate à inflação se o superavit primário ao final de 2015 chegar ao 0,9% do PIB estabelecido pelo governo ou um número menor. Mesmo que no final haja entre alguns analis- tas uma decepção com um valor mais baixo, o compromisso de buscar um superávit primário dessa ordem via redução de despesas e aumentos de tributos é que interessa nesse combate.

    A lógica dessa afirmação é simples: alguns décimos de superavit primário, a mais ou a menos, não têm influência maior sobre o nível da demanda interna que está no centro dos desequilíbrios de hoje na economia brasileira.

    Outro ponto importante da política fiscal é o compromisso de um superavit primário maior –os 2% estabelecidos pelo governo me parece adequado– para o próximo ano, período em que recessão deve ser mais suave do que a deste ano. Sua função é ancorar as expectativas e mostrar a estabilidade da nova política fiscal.

    Outra parte essencial a ser observada é a redução do outro mecanismo usado pela presidente Dilma para tentar acelerar o crescimento econômico em seu primeiro mandato: a expansão do crédito dos bancos públicos. Esse compromisso é mais fácil de ser atingido, pois depende de medidas que podem ser tomadas no âmbito administrativo do governo e, portanto, não dependem do Congresso ou do nível da queda da atividade econômica. E as medidas tomadas até agora mostram uma grande eficiência em sua execução.

    Portanto, para o leitor acompanhar a possibilidade de sucesso do ministro Levy, são esse dois pontos –ao lado do compromisso do BC com a busca do centro da meta– que precisam ser seguidos nos próximos meses. O resto é espuma ou, como dizem os economistas, ruídos secundários.

    luiz carlos mendonça de barros

    Escreveu até junho de 2015

    É engenheiro e economista, ex-presidente do BNDES e ex-ministro das Comunicações. É sócio e editor do site de economia e política "Primeira Leitura".

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