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    Luiz Carlos Mendonça de Barros

    Levy: a mudança de tom do PT

    12/06/2015 02h00

    Por várias vezes mencionei a necessidade de entender a dinâmica política no Brasil para que a difícil tarefa de acompanhar a economia possa ser feita com sucesso. Adverti também o leitor para o fato de que os chamados mercados –no Brasil e no exterior– têm uma enorme dificuldade de fazer esta síntese. Por esta razão a volatilidade dos preços dos ativos financeiros negociados se eleva e ganha cores de irracionalidade nestes momentos.

    Em recente entrevista ao jornal "Valor" chamei a atenção para o comportamento esquizofrênico dos investidores e especuladores nestes meses em que a economia está sendo comandada pelo ministro Joaquim Levy. Desde o início de seu mandato como ministro da Fazenda, a maioria dos analistas e formadores de preços nos mercados decidiu apostar no fracasso de sua missão apesar de seu perfil ideológico.

    E tinham certa razão para isso, dado o abismo de ideias que separa o ministro do governo Dilma e, principalmente, do PT. Esqueceram-se, entretanto, do cavalo de pau que Lula deu na política econômica desde seu primeiro dia como presidente em 2003. Para alguns, Levy nem chegaria a tomar posse. Para outros, não duraria dois meses no cargo em razão da pressão que cairia sobre ele e Dilma. Os mais otimistas davam ao ministro um pouco mais de tempo, mas acabaria saindo antes do fim do semestre.

    Pois nada disso aconteceu, e uma leitura correta dos jornais desta semana mostra que os ventos políticos realmente mudaram. No próximo congresso do PT, a ser realizado em Salvador, a ordem do dia –emanada inclusive de Lula– é deixar para trás as críticas ao ajuste fiscal recessivo e falar de um futuro melhor e de novas esperanças para a eleição de 2018. As vozes discordantes –que certamente vão aparecer– deverão ser tratadas como manifestações de radicais, descolados da realidade política.

    Este cenário sempre foi o defendido por mim nestes meses de esquizofrenia da maioria. E por que me mantive fora desse movimento de manada que ainda assistimos? Por uma razão muito simples: o governo Dilma e o PT não têm alternativa senão apostar no ajuste rápido para que, nos dois últimos anos do mandato, a inflação volte a um nível civilizado e os salários reais passem a crescer novamente. E os brasileiros empregados serão ainda a grande maioria.

    Vou mais longe na minha análise e digo que os caminhos de Dilma e do PT vão se afastar ainda mais ao longo dos próximos anos. A presidenta vai procurar uma saída honrosa para seu governo, buscando um índice de aprovação com algumas tintas de decência ao fim de seu mandato. Não será seu objetivo manter o PT no poder via uma vitória eleitoral em 2018.

    As incertezas sobre o grau de recuperação da economia em 2017 e 2018 são muitas para permitir hoje um prognóstico sobre a recuperação eleitoral do partido de Lula. Mas uma economia crescendo pouco, mas crescendo, é uma hipótese que considero provável e que garantiria à presidenta um lugar mais confortável na história de nosso país.

    Por isto tudo, acredito que o ministro Levy ficará e terá um sucesso relativo em sua difícil missão.

    luiz carlos mendonça de barros

    Escreveu até junho de 2015

    É engenheiro e economista, ex-presidente do BNDES e ex-ministro das Comunicações. É sócio e editor do site de economia e política "Primeira Leitura".

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