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    Luiz Caversan

    Simplesmente faz parte...

    19/10/2013 10h47

    Para encerrar, pelo menos do meu lado, o assunto das biografias: daqui para a frente, quando, e se, forem escritas biografias de Caetano Veloso e Chico Buarque, o capítulo dedicado à censura infelizmente não trará apenas toda a luta que estes artistas brasileiros travaram bravamente em nome de sua liberdade de opinião, um tendo que se exilar no exterior (o mesmo acontecendo com Gilberto Gil...), outro aqui permanecendo a enfrentar a ignorância e a violência intelectual de censores.

    Quando, e se, forem escritas (alguém se habilita?) estas novas biografias terão que dedicar diversas páginas para tentar reproduzir suas posições ambíguas e confusas sobre a liberdade de expressão e a preservação da intimidade, o direito à livre circulação de ideias (expresso em pelo menos cinco trechos de nossa Constituição) e o suposto direito de um artista não querer que falem dele. Ou que falem dele só quando ele quiser. Ou que falem dele só o que ele quiser, que seja.

    Impressionante como pessoas tão brilhantes como eles, gênios na arte de dar sentimentos inauditos às palavras, tenham se atrapalhado tanto na hora de defender seus pontos de vista. Será que é porque estes pontos de vista são indefensáveis?

    Será que é porque, como se diz vulgarmente, o "buraco é mais embaixo"?

    Só mais duas coisas a dizer:

    1 - Se o problema é proteger os biografados de difamações (atribuir algo ofensivo à sua reputação), brigue-se então pelo fortalecimento das leis que punem tais abusos, ampliando-lhes as penas, estabelecendo-se multa pesadas e equivalentes ao dano que possam causar - sim, hoje a aplicação da lei é falha e controversa. Quem lutou tanto contra Lei de Segurança Nacional e Código de Censura e outras excrescências legais pode perfeitamente liderar esta empreitada, legitimamente em nome de sua privacidade, mas respeitando a sagrada liberdade de expressão que sempre lhes foi tão cara.

    2 - Finalmente, faço minhas as palavras do querido Gerald Thomas, definitivas: "Fazer parte da vida pública também significa ter desagradáveis surpresas e curvas em estradas nem sempre desejáveis. Seja como for, curvas e calombos fazem parte dessa 'obra de arte total' e merecem constar numa biografia, goste o biografado ou não. Faz parte. Simplesmente faz parte."

    luiz caversan

    Escreveu até abril de 2016

    É jornalista e consultor na área de comunicação corporativa.

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