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    Luiz Caversan

    O cachorro negro da depressão

    21/12/2013 03h00

    Tem muita gente que vai achar o tema inadequado para estes tempos em que bimbalham os sinos e está todo mundo feliz –ou pelo menos tentando ser feliz ou ainda tentando demonstrar que está feliz para não ser chato.

    Mas sempre há os chatos, e aqui está um que vai voltar ao assunto (que muitos acham "inconveniente"..) da depressão, a doença que se manifesta como um estado de espírito que é realmente o oposto exato e completo do que se convencionou chamar de espírito de Natal.

    O motivo é este: esta semana circulou mundo afora um vídeo de animação produzido pela Organização Mundial da Saúde chamado "Eu tinha um cachorro preto, seu nome era depressão".

    Trata-se de um filminho muito bacana, curto (quatro minutos) e a um só tempo envolvente e esclarecedor, didático sem ser aborrecido. E em alguns momentos emocionante sobretudo para aqueles que convivem ou conviveram com o problema que atinge ao menos 5% da população mundial, ou seja, a bagatela de uns 350 milhões de indivíduos.

    A metáfora é simples: um homem conta sua história de convivência com um cachorro negro interfere na sua vida de maneira tal que chega ao ponto de anulá-lo completamente, destruí-lo.

    Atuando como que um filtro por intermédio do qual o homem vê e sente a realidade, o cachorro negro vai deixando o homem vazio, envelhecido, sem apetite para nada, sem memória, sem confiança, amedrontado e principalmente envergonhado. A vergonha surge como o sentimento mais avassalador, posto que alimentada pela exaustão de manter uma mentira emocional.

    É assim que é: a depressão metaforizada no cachorro preto penetra, envolve, domina e inutiliza, destroça. "Não é você se sentir por baixo ou triste, é pior, é você não ter capacidade de sentir", diz o homem a certa altura. Mas pode-se dizer que esta afirmação, ironicamente, não é exata, uma vez que persiste sim um sentimento que em geral o deprimido fica ruminando, que é a vergonha de estar naquela situação. O que piora ainda mais seu estado, num sinistro círculo vicioso em que pensamentos ruins não saem da cabeça –uma espécie de disco riscado, que é como eu enxergava meus sentimentos deletérios permanentes quando eles me dominavam cerca de 10 anos atrás.

    Se na primeira parte do vídeo procura-se descrever todos os sintomas e males causados pela depressão, na segunda procura se demonstrar que, identificando-se como um infeliz proprietário de um "cachorro preto", a pessoa deve procurar ajuda profissional. Apoio para entender que, se por um lado não existe pílula mágica que o afaste rapidamente, por outro há a possibilidade de enfrentar o cachorro, deixando de temê-lo; abraçá-lo para conseguir aplacar sua presença avassaladora, e assim andar mais rápido do que ele, mesmo sabendo que possivelmente ele sempre estará ali logo atrás, pronto para atacar novamente.

    Claro que a mensagem do vídeo é otimista e acaba minimizando um pouco as coisas como elas de fato são. Afinal, resume em minutos o que às vezes pode durar quase uma vida para mudar –no meu caso foram oito anos. Não basta apenas procurar médico, tomar remédios, ter apoio de amigos, buscar atividades positivas; muitas vezes você faz isso tudo e não sai do lugar. Eu fiquei por exemplo um ano mudando de antidepressivo (foram seis marcas diferentes...) até que finalmente um deles fizesse o efeito esperado.

    Mas o vídeo da OMS transmite esperança e pode sim, orientar, servir de alento e de repente encaminhar para a luz quem está imobilizado e envergonhado.

    Se você é um dos 350 milhões que têm depressão –ou convive/conhece alguém que tenha– ou apenas se interessa pelo tema, vale muito a pena dar uma olhada aqui: http://www.youtube.com/watch?v=RTcmNwK4420.

    Espalhe...

    *

    Também para espalhar: shows, debates, distribuição de livros, performances, instalações e muita animação ocorrem neste sábado a partir das 16h entre as árvores que formam o que já é chamado de Parque Augusta, um grande terreno na esquina das ruas Caio Prado e Augusta, região central de São Paulo.

    São 25 mil metros de área livre ou verde que correm o risco de dar lugar a torres de concreto.

    Se depender da mobilização de gente ligada à cultura como Marcelo Rubens Paiva, Antonio Prata, Marcelo Tass, Cadão Volpato, Taciana Barros e centenas de outros, isto não deve acontecer.

    Se depender da vontade política do prefeito Fernando Haddad, responsável pela decisão final, isto não deve acontecer. E teremos em breve mais um parque na cidade.

    luiz caversan

    Escreveu até abril de 2016

    É jornalista e consultor na área de comunicação corporativa.

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