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    Luiz Caversan

    Pequenas corrupções

    15/02/2014 03h00

    Fez muito sucesso esta semana (nas redes sociais, claro) o cartaz da campanha deflagrada pela CGU - Controladoria Geral da União contra o que se decidiu chamar de "pequenas corrupções".

    Como registrou o Ygor Salles em seu blog aqui mesmo na Folha, o #hashtag, foram milhões de visualizações na página da CGU, coisa rara para um órgão público, fora quem copiou, colou e "distribuiu" o cartaz, com os seguidos e seguintes compartilhamentos.

    A campanha aproveita agora que está na moda "protestar - ou seja, achincalhar todos os políticos, todos os banqueiros, todos os governantes, todos os policiais e de quebra todos os que de fato ou apenas na nossa opinião fazem alguma coisa errada - e instar as pessoas a olharem também para os pequenos desvios de conduta.

    Por que não olhar para o próprio umbigo - o que a maioria faz o tempo todo - e enxergar o que nós mesmos fazemos de errado no nosso cotidiano. Nós, nossos filhos, nossos amigos, colegas, nossa turma enfim.

    As "pequenas corrupções" listadas no cartaz eletrônico foram:
    · falsificar carteirinha de estudante
    · roubar TV a cabo
    · comprar produtos falsificados
    · furar fila
    · tentar subornar o guarda de trânsito para evitar multa
    · colar na prova
    · bater ponto pelo colega de trabalho
    · apresentar atestado médico falso

    A estas malandrices, rapidamente foram sendo acrescentadas dezenas de outras, como: andar pelo acostamento na estrada, avançar sobre a faixa de pedestre, cobrar valores diferentes com recibo ou sem recibo, transferir pontos da carteira de motorista para laranjas. E por aí vai.

    Mas o que chamou mesmo a atenção foi a quantidade imensa, imensa mesmo, de gente tentando justificar as malandragens que obviamente comete.
    Com argumentos lindos, tipo:

    Se todo mundo rouba, por que eu não posso?
    Se o ingresso fosse barato ninguém falsificaria carteira de estudante.
    O governo é corrupto, então vou mesmo sonegar imposto.
    As estradas são ruins e entupidas e eu quero chegar logo, por isso "acho válido" andar pelo acostamento.
    As TV são ricas e desonestas, isso libera o "gatonet".
    Patrão que é patrão tem mais é que ser enganado mesmo.

    Como não poderia deixar de ser, tudo naquela linha de raciocínio bem brasileira, segundo a qual o culpado são sempre os outros.

    É por estas e outras que caminhamos, caminhamos, caminhamos e permanecemos no mesmo lugar...

    luiz caversan

    Escreveu até abril de 2016

    É jornalista e consultor na área de comunicação corporativa.

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