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    Luiz Caversan

    Desculpa aí...

    06/09/2014 03h00

    O pedido de desculpas com um choro sem lágrimas da moça que chamou o goleiro negro de macaco, transmitido por todas as TVs, já seria patético por conta disso, pelo choro sem lágrima. Mas se superou quando ela, diante de dezenas de jornalistas, tentou justificar seu ato racista com a sua enorme, incontrolável paixão pelo time de futebol.

    Então é assim: desculpa aí, tá, fiquei nervosa porque meu time do coração estava perdendo e já que o goleiro estava ali na frente mesmo, negão, quase dois metros de altura, de repente me lembrei de um macaco e saí gritando, sem racismo, claro..

    Como diria minha mãe, faça-me o favor, mocinha!

    O pior é que tem gente, muita gente, já achando que a moça, tadica, está sendo injustamente condenada.

    Não está, não.

    Por conta de seu ato racista, isto sim, ela está sendo linchada nas redes sociais por gente tão ou mais imbecilizada do que ela. Como disse aqui na semana passada, racista e vadia se igualam na indecência.

    Mas que esta história saia logo dos holofotes, que esta moça preste conta à Justiça e que tudo isso seja mais um passo, ainda que pequeno, no sentido da civilização da qual carecemos.

    *

    E por falar em Justiça, lembra do fotógrafo que perdeu um olho por causa de um tiro de bala de borracha disparado por um PM de São Paulo durante manifestações de professores estaduais em 2000? Ele tinha obtido ganho de causa contra o Estado, condenado em primeira instância a pagar 100 salários mínimos de ressarcimento ao rapaz (Alex Silveira) pelo dano causado. Mas não é que houve recurso, e o relatório do juiz Vicente de Abreu Amadei foi aprovado por seus pares, livrando o Estado de qualquer ônus?

    Olha o que disse o meritíssimo, segundo o ótimo site "Ponte", dedicado a segurança pública, justiça e direitos humanos:

    "Permanecendo no local do tumulto, dele não se retirando ao tempo em que o conflito tomou proporções agressivas e de risco à integridade física, mantendo-se, então, no meio dele, nada obstante seu único escopo de reportagem fotográfica, o autor colocou-se em quadro no qual se pode afirmar ser dele a culpa exclusiva do lamentável episódio do qual foi vítima."
    Resumindo: a vítima é a culpada por levar um tiro no olho...

    luiz caversan

    Escreveu até abril de 2016

    É jornalista e consultor na área de comunicação corporativa.

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