Houve um tempo, e faz pouco tempo, em que eleições eram uma verdadeira festa da democracia.

Ainda havia um certo gosto amargo na boca por conta dos anos a fio em que os militares nos proibiram de chegar perto das urnas, de escolher prefeito, governador, presidente, de ouvir candidatos falando (só podíamos ver os retratos e os nomes dos caras, lembra?), de fazer o que podíamos e queríamos fazer.

Votar era uma catarse, uma farra, uma alegria.

Agora pode tudo, e estamos na reta final da tal da "festa da democracia", mas eis que resiste um gosto meio amargo teimando na garganta.

Não mais pelo que não se diz, pelo que não se manifesta, pelo que anda escondido nas casernas ou nas prisões de ideias, mas sim pelo exato oposto, por tudo o que andam dizendo em alto e bom som; berra-se...

Tudo o que se agride, o que se xinga, o que se cobra, o que se mente, o que se distorce, o que se promete falsamente, o que se insinua, o que se tenta enfiar goela abaixo da pessoa.

Ingenuidade, claro, sempre foi meio assim, mas acho que agora está pior.

Certamente a conexão virtual de todos os que gritam ajuda a aumentar a barulheira. E as mentiras, os desaforos, as distorções, as falsas promessas, os xingamentos machucam muito mais.

Que frescura, não, ouvidos sensíveis?

Pode ser...

Esta semana, que deveria ser a reta final da tal festa da democracia, com a realidade absolutamente inédita de duas mulheres de passados tão interessantes quanto respeitáveis na disputa pelo comando da nação, o que se verá será quase que uma pancadaria tipo tirem as crianças da sala.

Se por estes dias cada visita a uma rede social ("botequins" pós modernos de todos os debates) tem tido como saldo o desalento e até mesmo um certo asco com o tom belicoso predominante, nos próximos dias o sangue vai correr.

Espero sinceramente que sobre algo a se festejar no final.