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    Luiz Caversan

    Tolerar bolsonaros?

    13/12/2014 03h00

    O Facebook me avisou esta semana que, das 2.186 pessoas com quem eu compartilho esta rede virtual de relacionamento, 11 "curtiram" a "fanpage" do deputado Jair Bolsonaro, aquele que disse que não estupra a ministra Maria do Rosário porque ela "não merece", o que leva à conclusão óbvia de que para ele há mulheres que "merecem'' ser estupradas.

    Sinceramente a declaração do deputado mais votado no Rio de Janeiro não causa espécie, porque, para quem defende pena de morte, tortura e torturadores, regime militar e a ditadura, tem estigma de racista e é convictamente homofóbico, cogitar o estupro é apenas a cereja estragada neste bolo indigesto.

    Mas o fato é que ele está aí, foi o deputado federal mais votado no Rio e foi "curtido" por 11 pessoas que conheço, umas mais outras menos, ou com as quais tenho um mínimo de afinidade.

    E mais: é um tremendo marqueteiro.

    Volta com tudo ao noticiário e às redes sociais não coincidentemente no mesmo dia em que o relatório da Comissão da Verdade (palmas para ela!) foi tornado público.

    Como arauto do totalitarismo, do prende-arrebenta a qualquer preço, do eu-sou-melhor-do-que-você, ele segue cumprindo exitosamente seu papel neste triste espetáculo por um motivo muito simples: tem plateia para isso.

    Meio milhão no Rio de Janeiro (464 mil votos), sabe-se lá quantos milhares país afora, outros tantos no Facebook. E 11 na minha timeline...

    Detalhe: destes 11, quatro são mulheres, o que me despertou a curiosidade para perguntar reservadamente a cada uma: elas tinham mesmo curtido a página do Bolsonaro e estavam de acordo com as declarações dele sobre estupro?

    Todas responderam rapidamente ou que não se lembravam de um dia ter curtido a tal página (duas delas) ou que nunca tinham feito isso (as outras duas). E que não, nenhuma concordava com o que ele disse.

    Também perguntei na minha timeline o que os demais amigos do Face achavam que eu deveria fazer com estas pessoas. Poucas observações conciliadoras, a maioria absoluta dizendo que deveria excluir estas "amizades" incontinênti -algumas usando palavreado "bolsonarístico", o que me fez excluir a elas, isto sim...

    Por conta da amostragem que tive das amigas, resolvi então dar o benefício da dúvida aos demais "curtidores" e não vou deletar ninguém: podem ter sido incluídos entre os fãs do deputado por erro, distração ou estar lá, como lembrou uma colega jornalista, por "dever de ofício" ou por curiosidade mórbida, uma ou outra razão levando-as a tomar conhecimento e acompanhar as sandices que ele perpetua.

    Como resultado deste imbróglio todo, restou aqui uma certeza: seja qual for a maneira –ainda que acompanhando sua página no Face–, é preciso sim estar permanentemente atento a sujeitos como o deputado. Seus pensamentos retrógrados, totalitários e suas palavras que flertam com a abjeção, não podem ser apenas ridicularizados ou ignorados
    Sobretudo porque representam todos aqueles (muitos...) que não titubeariam em lançar mão da violência e do golpismo para retomar o poder e com ele voltar a prender, torturar, calar a diversidade, sufocar a liberdade de pensamento.

    Há quem deseje por uma pedra sobre a ditadura militar brasileira, Jair Bolsonaro a quer rediviva.

    Portanto, para os que somos democratas, há que se esclarecer mais, exercitar mais a cidadania, fortalecer a liberdade de expressão, relembrar sempre todos os muitos malefícios de qualquer regime ditatorial (de esquerda ou de direita), repudiar a intolerância.

    Ainda que para isso seja necessário encarar os bolsonaros que andam por aí.

    luiz caversan

    Escreveu até abril de 2016

    É jornalista e consultor na área de comunicação corporativa.

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