• Colunistas

    Tuesday, 30-Apr-2024 06:44:12 -03
    Luiz Caversan

    Corrompendo marcas

    30/05/2015 02h00

    O estouro do escândalo envolvendo Fifa, CBF e o mundo do futebol colocou em alerta todo um segmento corporativo, que é aquele que diz respeito ao chamado marketing esportivo, ou seja, o patrocínio por parte de empresas às atividades e entidades ligadas ao esporte, mais fortemente presente, hoje imprescindível mesmo, no mundo futebolístico.

    Qual será o impacto desse escândalo de proporções globais nas marcas que se associam a estas entidades, em geral por meio dessas pessoas que estão sendo investigadas, acusadas, presas?

    O quanto a corrupção será capaz de corromper, no sentido de deteriorar, tradição e prestígio?

    O pessoal que trabalha com branding para as marcas ligadas ao futebol, ou seja, que é responsável por administrar sua imagem e seus valores, está tendo muito trabalho por estes dias, certamente.

    Diante do volume exorbitante que as cifras têm alcançado continuamente, é impossível se pensar hoje em qualquer ação, mínima que seja, envolvendo times, estádios, jogadores e técnicos sem que se pense imediatamente em um produto, uma empresa que possa garantir o empreendimento.

    Um produto, uma marca, uma empresa de um lado, do outro um público, um intermediário, um dirigente federativo, um agente, outro intermediário, um dirigente do clube, um assessor do dirigente e por aí vai...

    O principal personagem norte-americano do atual escândalo é Chuck Blazer, ex-representante da Fifa nos Estados Unidos e que ficou conhecido pelo apelido de "Mr. 10%" ("Sr. Dez por Cento"), dada sua habilidade em levar no mínimo este valor em todo e qualquer negócio que passasse na sua frente.

    A pergunta que cabe aqui é: quantos "Mrs 10%" as empresas que apoiam, prestigiam, incentivam, patrocinam o futebol brasileiro alimentam no seu dia-a-dia?

    Não estou me referindo a atividades consagradas ou estabelecidas com transparência com o objetivo de aproximar patrocinado de patrocinador, viabilizando negócios e incrementando o crescimento de uma atividade por meio de estratégia, planejamento, investimento - embora também aqui coisas estranhas possam acontecer, e acontecem.

    Mas seria bom, saudável mesmo, identificar e eliminar quem está lá dentro da CBF, de cada federação estadual de futebol, de cada clube e de cada time, com o poder para ficar no meio de uma negociação, para criar dificuldades para vender facilidades, gente que consta do "contas-a-pagar" das empresas que colam seus logotipos nas fachadas, displays, estádios, uniformes.

    Como não se deve generalizar, achando que todo dirigente esportivo (de qualquer modalidade que seja) é picareta e leva 10%, também é de se esperar que as empresas que trafegam no setor demonstrem que atuam com honestidade, transparência e ética.

    Na verdade, daqui para a frente este pode muito bem ser um caminho sem volta.

    Pois, da mesma forma que nenhuma grife de roupa quer mais ter seu nome vinculado ao trabalho escravo, espera-se que marcas de bebidas, material esportivo, bancos, empresas aéreas, seguradoras etc. também não queiram ser associadas a corrupção, crime, extorsões.

    Mesmo porque, pelo andar da carruagem não será difícil a gente ver em breve alguém sendo levado preso, algemado, com um agasalho esportivo estampando esta ou aquela marca, bem visível.

    Daí, haja branding...

    luiz caversan

    Escreveu até abril de 2016

    É jornalista e consultor na área de comunicação corporativa.

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024