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    Luiz Caversan

    Depressões natalinas

    12/12/2015 02h00

    Hoje eu fui ao shopping e tirei uma foto com o Papai Noel.

    Agora, fazendo as contas, penso que não tirava uma foto com um Papai Noel "de verdade" há mais de 50 anos.

    No ano passado levei meu neto para ver este mesmo Papai Noel neste mesmo shopping. Ele ficou ressabiado, olhou o homem barbudo de roupas vermelhas com o canto dos olhos e, com o direito adquirido em seus três anos de idade, ensaiou um choro meio assustado.

    Mas não chorou, porque logo nos afastamos da figura inóspita.

    Pois hoje topei com o Papai Noel de novo. Sentadinho ali no seu trono, sozinho, à espera dos petizes (ainda se fala "petiz"?). Fui chegando perto e quando ele me olhou com sua barbona, criei coragem:

    - E aí, Papai Noel, beleza?

    - Tudo em cima...

    - Era você que estava aqui no ano passado?

    - Era eu mesmo, todo ano por aqui...

    - Meu neto veio te ver no ano passado, mas ficou meio assustado...

    - Traz ele de novo, quem sabe agora ele curte.

    - Ah, infelizmente não vai dar, meu neto se mudou para o Canadá. Quer dizer, a mãe dele, minha filha, se mudou e o levou junto, claro.

    - Ah, que pena.

    - Mas que tal a gente tirar uma foto pra mandar pra ele?

    - Maravilha!

    - Então vamos lá, selfie!

    - Oi, Gabriel, um abraço do Papai Noel...

    - Obrigado, Papai Noel, até o ano que vem!

    - Até!

    - Bom trabalho...

    O que será um "bom trabalho" para um Papai Noel de shopping, saí pensando enquanto mandava a foto pra mãe do Gabriel pelo zap-zap. Será que é ficar cercado de muitas crianças (petizes...)? Ouvir pedidos bacanas? O ar condicionado estar bem bom pra aguentar o calor da roupa de veludo? Ou bastaria o sorriso que todo mundo invariavelmente abre quando se tem um Papai Noel pela frente?

    Afinal, como gritam os reclames (reclames?!): É Natal!

    A alegria, portanto, é obrigatória.

    Mesmo que você ganhe um torrone de amendoim do seu "amigo" secreto, nada de reclamação nem mau humor. Mesmo que a saúde não ande lá essas coisas, que o emprego seja meia boca, que o salário, ó, que a política e a economia, uó, nada de reclamar, porque é Natal!

    Deprimente...

    Mas como ficar deprimido justo no Natal! Quando a festa, a comida, a bebida, a confraternização universal precisam da participação de todos para se auto-justificar, e, principalmente, é preciso comprar, comprar, comprar nem que seja uma lembrancinha?

    Há que se festejar, do jeito que for, da maneira que der, na base do tira sua tristeza do caminho que eu quero passar com minha alegria, mesmo que minha alegria seja forçada, hipócrita ou dissimulada.
    Afinal, é Natal, e bimbalham os sinos...

    luiz caversan

    Escreveu até abril de 2016

    É jornalista e consultor na área de comunicação corporativa.

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