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    Luiz Fernando Vianna

    Farinha pouca

    24/11/2014 07h14

    RIO DE JANEIRO - Se confirmadas, as escolhas de Kátia Abreu e Joaquim Levy podem provocar um tantinho de tristeza, mas zero de surpresa. O Ministério da Agricultura já está nas mãos do agronegócio há muito tempo. Era sonho impossível uma guinada em prol dos trabalhadores rurais, das terras indígenas, das preocupações ambientais.
    E, a despeito do discurso algo esquerdista da campanha de Dilma, já se esperava na Fazenda um economista linha-dura, que tente pôr as contas em ordem e satisfaça os sempre insatisfeitos "mercados".

    Reformas ministeriais são maçantes, pois só mudam os nomes, não os interesses que representam. Mas esta tem dois ingredientes novos.
    Um, claro, são as investigações na Petrobras. É provável que o ventilador alcance dezenas de políticos, inclusive da oposição. Sabe-se lá como vai ficar a "base aliada" (nome curioso, pois com aliados desse nível não se precisa de inimigos). Num cenário quase ingênuo, Dilma ganhará mais liberdade de escolha, já que parte de seus interlocutores partidários estará na cadeia. No pior cenário para ela, alguns de seus escolhidos estarão presos ou sem cacife.

    O outro ingrediente é que há mais gente na arena pública. A telefonia celular e a internet, por exemplo, criaram novas formas de inclusão econômica, social e política. No Brasil dos últimos 20 anos, cresceu a renda per capita, caiu o desemprego, conquistaram-se direitos –graças a programas de governo e à militância de diversos segmentos.

    Mas a fartura acabou. Quem melhorou de vida, abrindo pequenas fissuras no nosso sistema de castas, não vai querer recuar. Os barões, no entanto, estão na frente e já asseguraram dois ministérios. Somos um país de coalizões tramadas em gabinetes. Talvez, agora, uma parte da escassa farinha seja disputada à luz do sol. Se não for assim, já sabemos quem comerá o pirão.

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