• Colunistas

    Saturday, 18-May-2024 08:18:06 -03
    Luiz Fernando Vianna

    Nei Lopes

    02/02/2015 02h00

    RIO DE JANEIRO - Não custa registrar que, ao se falar aqui de "Bilac Vê Estrelas", em cartaz no Rio, a ideia não é agradar o colega de coluna Ruy Castro, autor do livro que deu origem ao musical. O assunto é Nei Lopes, criador das canções.

    Não deveria haver qualquer surpresa em se afirmar que Nei, carioca do subúrbio do Irajá, é um dos maiores compositores brasileiros em atividade. Profícuo sem perder o rigor, já produziu sucessos como "Senhora Liberdade", "Gostoso Veneno" (ambos com Wilson Moreira) e "Tempo de Dondon", dentre dezenas de exemplares da melhor música popular. Logo, por que se escrever sobre ele?

    Por causa do espanto. Ouvir, em apenas uma hora e meia, 15 canções novas, não menos do que excelentes, é um acontecimento raríssimo, espantoso. Lembra o tempo antediluviano em que comprávamos discos, púnhamos no aparelho de som e ficávamos chapados ao escutar um trabalho deslumbrante.

    Pode ser que nenhuma das 15 tenha vida longe dos palcos, tão perfeitas que são para a peça. Não importa, pois trilha de musical é feita para funcionar no teatro, não necessariamente fora dele –embora esse seja um efeito colateral desejável. Mesmo sem conhecê-las antes, o público improvisa coros, sai do Sesc Ginástico cantarolando-as e conferindo as letras no programa.

    Faz lembrar a figura do "óbvio ululante", de Nelson Rodrigues. Como não chamar de grande um autor capaz de produzir –em menos de dois meses, pelo que foi informado– um repertório dessa qualidade e com esse poder de sedução? Nei estar entre os maiores é o óbvio ululante.

    E, embora sempre tratado pela imprensa como "sambista" (rótulo redutor e algo racista), ele não fez sambas para o espetáculo, pois o gênero não existia em 1903, ano da trama.

    Cole Porter, quem diria, acabou no Irajá. E se deu bem.

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024