RIO DE JANEIRO - Desmontar o cartel dos ônibus do Rio teria para a cidade um impacto semelhante ao que terá para o país o eventual desmonte do cartel das empreiteiras.

Em primeiro lugar, significaria faxinar uma das áreas mais imundas da vida carioca, a dos transportes, em que o contribuinte paga caviar e recebe jiló podre.

Depois, mas não menos importante, sacudiria várias estruturas: prefeitura, governo estadual, Câmara dos Vereadores, Assembleia Legislativa. Há décadas os proprietários de ônibus têm entusiasmados colaboradores nessas instâncias.

O assunto não é municipal. Os concessionários de serviços públicos do Rio têm negócios em outros Estados e, como ficou indicado nesta semana, dinheiro forte no exterior.

Segundo o blog do jornalista Fernando Rodrigues no UOL, 31 pessoas ligadas ao controle das empresas de ônibus têm conta no HSBC suíço, no caso chamado de SwissLeaks. Juntas, as contas somam US$ 38,2 milhões (cerca de R$ 107 milhões). Só a família de Jacob Barata, a mais poderosa do ramo, aparece com US$ 17,6 milhões (R$ 50,6 milhões).

Os Barata negam a existência das contas. Estão no seu direito. Paulo Maluf nega toda semana já ter mandado dinheiro para fora do país. Nelson Rodrigues recomendava ao marido adúltero negar sempre, mesmo ante a mais nítida evidência.

Difícil negar é o péssimo serviço que prestam –palavra aqui de quem é usuário há 40 anos. Só 20% dos ônibus têm ar-condicionado. A passagem saltou 13,3% em fevereiro e está em R$ 3,40. Desde 2009, quando começou a gestão Eduardo Paes, as tarifas subiram 54,5%, contra 39,3% da inflação medida pelo IPCA.

O PSOL conseguiu as assinaturas para abrir no Senado a CPI do HSBC. Normalmente, CPIs rendem mais extorsões do que soluções. Mas, ao menos para ter esperança, não é preciso pagar propina.