RIO DE JANEIRO - Completam-se no domingo 30 anos da posse que deveria ser de Tancredo Neves e acabou sendo de José Sarney. Desde essa falha inaugural, a redemocratização vem cumprindo com dificuldades a sua missão.

Canais efetivos com a sociedade (conselhos populares, orçamento participativo etc.) não se firmaram em âmbito federal, por desinteresse de Executivo e Legislativo. Estes optaram por uma relação "parainstitucional": a maioria dos parlamentares tem um preço, que o governo paga para tentar governar.

É difícil sustentar esse modelo. O preço sobe, as ambições também, esquemas cada vez mais complexos são montados para corromper um número maior de pessoas. Uma hora a corrente quebra.

Do Centrão dos tempos de Sarney à compra de deputados pelas gestões petistas, passando pelos grandes negócios dos anos FHC (emenda da reeleição, privatização da telefonia e outros), houve um fortalecimento do jogo financeiro e um esvaziamento do embate político – cujo simulacro é a rinha de facções.

As cifras da corrupção recente impressionam, mas talvez não fossem menores se outras siglas estivessem no comando. O modelo é insaciável.

A redemocratização pouco politizada (triste paradoxo) degrada os partidos que já foram sérios. O PT virou uma máquina de poder que não se lubrifica, sem renovação de nomes ou ideias. O PSDB, hoje árido de vida inteligente, aceita ser torcedor inconfesso de algum tipo de golpe ou da dissolução do que ainda escora o país: certa estabilidade institucional.

A politização precária também resulta na leviandade com que se fala em derrubar um governo num sistema presidencialista. Quem viveu sob a ditadura, protestou contra o sequestro do Estado pelo grupo de Collor e conheceu condições socioeconômicas piores do que as atuais sabe que isso é coisa séria.