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    Luiz Fernando Vianna

    Pátria nossa

    12/06/2015 02h00

    RIO DE JANEIRO - "A sociedade brasileira é das mais curiosas do mundo. Mal tem condição de te dar um emprego de salário mínimo. Mas, se um pobre transgride suas regras, bota-o numa prisão que custa seis salários mínimos."

    A constatação é de Millôr Fernandes (1923-2012). Como a situação do mínimo melhorou nos últimos anos (e a dos presos, não), o custo de um presidiário está hoje entre três e quatro salários. Ufa!, festejarão os que clamam para os pobres o programa Minha Cela, Minha Vida (ou, de preferência, Morte).

    Cadeia é medida extrema. Torná-la o eixo de uma ideia nacional de segurança (mais penitenciárias construídas, mais adolescentes encarcerados, penas mais duras para pequenos delitos) é transformar o extremo em centro, algo que faz mal à língua e ao cérebro.

    "Cadeia não conserta ninguém", já disse o ministro Marco Aurélio Mello, do STF. Por isso, o Supremo está para descriminalizar o consumo de drogas. Será um grande passo para o país, inclusive para os abastados "usuários" (se for pobre, é "traficante"), que precisam subornar policiais para manter limpas a ficha criminal e a imagem de cidadão de bem, aquele que não tolera corrupção.

    Insuspeito quando o assunto é o governo do Estado do Rio, o jornal "O Globo" mostrou na segunda (8) que o programa Caminho Melhor Jovem, de encaminhamento educacional, está praticamente abandonado, embora tenha recebido US$ 60 milhões (cerca de R$ 190 milhões) financiados pelo BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento). E assim lotam-se as prisões, para felicidade de tantos.

    "Minha pátria; cheia de torturadores, carros de luxo, escravagistas, mansões, candidatos a ditadores, jatinhos, especuladores da Bolsa, crianças famintas. Por isso é o país do futuro. Não pode piorar." (Millôr). Parece que pode.

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