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    Luli Radfahrer

    Reinventando o comércio

    04/11/2013 03h50

    Os processos comerciais evoluíram, mas o modelo não seria estranho a um consumidor do século 17. A matéria-prima ainda é industrializada, transportada e apresentada em lojas, onde é trocada por dinheiro, em uma relação que raramente se estende além do período da garantia. Não há muita diferença entre um iPhone comprado na Amazon e um peixe comprado em um mercado de rua em Marselha.

    O comércio eletrônico varreu esse problema para debaixo do tapete. Por mais que as lojas estejam abertas o tempo todo, disponíveis nos bolsos, o processo ainda é o mesmo, dependente dos mesmos agentes. Mas isso está para mudar.

    Cartunista Alpino/Folhapress

    A começar pelo dinheiro. As transações pela internet criaram uma facilidade, mas geraram um gigantesco controle de informação pelos bancos e companhias de cartão de crédito. Eles sabem, a cada transação, quem você é, onde está e do que gosta. O preço pago pela comodidade digital é a perda de privacidade.

    Não há, na internet, algo equivalente a dinheiro: anônimo, rápido e definitivo. Ou não havia, até o surgimento do Bitcoin -não surpreende vermos tantas críticas.

    Há indícios que a própria ideia de dinheiro esteja com os dias contados. A intensa troca de informações pelas redes sociais permite o surgimento de novas formas de pagamento. Há projetos de economia colaborativa, estimulando o desenvolvimento de economias locais e trocas de conhecimento específico. Usados em ambientes tão diversos quanto o mundo acadêmico e as moedas sociais, esse novo intermediário ajuda e reconstruir as relações de valor e sua aplicação.

    Facebook e Google mostram que é possível pagar por serviços úteis com uma moeda que há pouco tempo era tão difícil de minerar que sua aplicação prática se tornava inviável: a informação. Aparentemente gratuitos, eles registram e analisam os dados de visitação de seus usuários, convertendo-os em orçamentos de mídia para anunciantes. É o mesmo princípio de patrocínio que antigamente sustentava os programas da TV e sustenta blogs e redes.

    Em um futuro próximo não será difícil imaginar um restaurante em que o cardápio, em um tablet, comparará o histórico do consumidor com os dados de estoque e disponibilidade dos pratos para formar combinações que sejam mais valiosas para todos.

    Em hangares industriais, máquinas de precisão imprimirão automóveis ou casas com personalização e detalhe não imaginados hoje. As limitações estariam na precisão do modelo e qualidade do material.

    Não demorará para que boa parte dos produtos sejam transformados em serviços.

    Ao invés de comprar um par de tênis, o consumidor poderá "assinar"um serviço para usar produtos por um tempo limitado e devolvê-los para o fabricante, que se encarregará de sua reciclagem. Basta olhar qualquer armário para notar como a prática faz mais sentido do que o processo industrial de hoje, em que materiais preciosos são arrancados do solos e depois seguem para aterros sanitários.

    A evolução tecnológica nos mostra que a única forma de ampliar a qualidade de vida ao mesmo tempo em que se acomodam mais e mais habitantes no planeta está em desafiar a imaginação.

    luli radfahrer

    Escreveu até abril de 2016

    É professor-doutor de Comunicação Digital da ECA da USP. Trabalha com internet desde 1994. Hoje é consultor em inovação digital.

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