• Colunistas

    Friday, 17-May-2024 07:49:52 -03
    Luli Radfahrer

    Dez coisas que você precisa saber a respeito de listas de dez coisas que você precisa saber

    22/12/2014 02h00

    1. Listicles

    Presentes nos rodapés de praticamente qualquer notícia e cada vez mais populares nas mídias sociais, textos curtos no formato de listas e com algum número cardinal em seus títulos parecem ter se tornado uma tendência no jornalismo escrito. Popularizados por sites como o BuzzFeed e compartilhados por praticamente todo mundo, esses artigos na forma de listas assumem diversos gêneros. Há relações de melhores e piores, dicas, sugestões de presentes, fatos que marcaram época, trivialidades bizarras, detalhes da vida íntima de celebridades e outros petiscos do fast food jornalístico. De tão populares, esses textos ganharam até um nome: "listicles", mistura de listas com artigos ("articles", em inglês).

    2. Listas não são novidade

    Revistas de variedades usam esse formato em suas capas há décadas, compilando dicas de sexo, melhores restaurantes ou praias mais bonitas. Emissoras de rádio e TV adoram comentar rankings de músicas, times, notícias, fatos e fotos, principalmente nesta época do ano. O popular livro de auto-ajuda corporativo "Os sete hábitos das pessoas altamente eficazes" não deixa de ser uma grande lista comentada. Em última instância, até as 95 teses de Martinho Lutero e os Dez Mandamentos são listas.

    3. Listas promovem a curadoria da informação

    Quando bem-feitas, ajudam seus leitores a ter uma ideia rápida dos argumentos expostos e decidir se vale a pena ler o texto. É confortável seguir em uma leitura guiada, com claros pontos de referência, que pode ser interrompida a qualquer momento sem que se perca de vista os argumentos expostos. Podem não ser a melhor forma de estimular o raciocínio, mas não deixam de ser práticas.

    4. Listas auxiliam a organizar a informação

    Nunca se consumiu tanta informação, da mais variada qualidade, de forma tão rápida. Quando qualquer assunto pode ser facilmente desdobrado em tópicos relacionados, desviando o leitor de sua intenção original, é preciso encontrar uma forma de criar contexto e sentido. Listas ajudam a memória ao identificar porções informativas de fácil digestão, entretendo seus leitores nas intermináveis filas e salas de espera.

    5. O formato estimula a colaboração

    Online, listas podem ser desenvolvidas de forma colaborativa, dando aos leitores maneiras adicionais de interagir com a informação. Conforme o contexto, listas podem apresentar um contexto mutante melhor do que muitas capas de revistas e primeiras páginas de jornais.

    6. Listas podem fazer boas introduções

    Não se deve imaginar que listas sirvam para tudo, nem acreditar que substituam textos maiores para a formação da opinião, mas não se deve negar seu valor para apresentar ou resumir temas. Ao entregar um volume limitado de informação, organizado de forma simples e direta, listas exercem uma função parecida com a dos índices, ajudando o leitor a perceber se o autor do texto tem realmente algo a dizer, qual é sua abordagem e ponto de vista. Sob esse aspecto, são mais transparentes e menos prepotentes que muitos textos jornalísticos. Listas não pretendem fazer a "cobertura completa" de um tema, podem ser eticamente neutras ou ter sua ideologia claramente identificável.

    7. Mas listas também podem ser uma perda de tempo

    Autores de listas às vezes tentam enganar seus leitores com tópicos inúteis, simplesmente porque não tem argumentos em volume suficiente para chegar a um bom número. Um dos truques mais comuns é o de anunciar que dirá alguma obviedade, dizê-la e repeti-la indefinidamente. Resumos e conclusões também funcionam como bons enchedores de linguiça.

    8. Existem muitas listas ruins

    Os críticos ao formato (quase sempre) tem razão. Muitas listas prometem maravilhas que não serão entregues. Outras contam "novidades" que de novo não tem nada. Algumas resumem a informação em parágrafos tão curtos que tornam impossível o desenvolvimento de qualquer raciocínio, enquanto outras nunca tiveram intenção de ir além do superficial. Seus autores põem a culpa na distração típica da Internet e da geração do Milênio, que seria incapaz de compreender qualquer argumento mais profundo do que tópicos em slides, mas isso não foi comprovado. Se o leitor tem alguma culpa, ela pode estar na vontade de saber um pouco de tudo, sem a disciplina necessária para se tornar um especialista. Há bons e maus profissionais em todas as áreas, e listas, por serem novas, ainda não desenvolveram regras de estilo consistentes.

    9. Todos são culpados

    Quem acha que há listas demais, usadas para praticamente tudo, deveria parar de clicar nelas. A indústria de conteúdo digital usa várias técnicas de mensuração e análise de métricas, valorizando peças que tenham grande número de cliques, pois essas aumentam a exposição de anúncios, e consequente faturamento. Enquanto listas continuarem a gerar dinheiro, ninguém de bom senso deixará de usá-las.

    10. Novas linguagens

    Listas, como infográficos, linhas do tempo, diagramas interativos e GIFs, podem servir como instrumentos narrativos, tornando o conteúdo mais rico e participativo. Da mesma forma que hoje não há quem duvide que vídeos ou entrevistas podem enriquecer histórias, nada impede que listas, bem usadas e oportunas, aumentem a compreensão e cativem os leitores, aguçando seu interesse e estimulando a formação de seu raciocínio. O que não é nada mal.

    luli radfahrer

    Escreveu até abril de 2016

    É professor-doutor de Comunicação Digital da ECA da USP. Trabalha com internet desde 1994. Hoje é consultor em inovação digital.

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024