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    Manuel da Costa Pinto

    Principal filme 'noir' de Humphrey Bogart ganha novas versões e 'remake'

    06/01/2013 03h00

    "À Beira do Abismo" (1946) é o mais emblemático dos filmes "noirs". Além da trama policial intrincada, em que a atmosfera soturna, inspirada no cinema expressionista alemão, intensifica-se na película em preto e branco (daí o termo "noir", "preto" em francês), o filme de Howard Hawks traz o arquétipo do detetive particular: Humphrey Bogart.

    Divulgação
    Humphrey Bogart e Lauren Bacall em "À Beira do Abismo", de 1946, o mais emblemático dos filmes "noirs"
    Humphrey Bogart e Lauren Bacall em "À Beira do Abismo", de 1946, o mais emblemático dos filmes "noirs"

    O ator já havia protagonizado "O Falcão Maltês", fazendo de Sam Spade o protótipo do detetive durão e de conduta ambígua, que transgride os códigos da lei mantendo um austero senso de justiça. Em "À Beira do Abismo", temos outro célebre investigador, Philip Marlowe, criação do escritor Raymond Chandler.

    O relançamento em DVD duplo inclui duas versões do filme e um "remake" de 1978, "A Arte de Matar", que ajudam a entender a principal característica do cinema "noir": o culto da obscuridade.

    Logo no começo do filme, Marlowe é chamado por um milionário de Los Angeles para investigar uma série de chantagens envolvendo suas duas filhas -uma delas vivida por Lauren Bacall (atriz que formou com Bogart um casal mítico de Hollywood).

    Entre diálogos afiados e repletos de insinuações eróticas, temos reviravoltas em que importa menos a identificação dos criminosos do que os impulsos obscuros que fazem todos mergulhar nesse submundo de extorsões e alianças suspeitas.

    Reza a lenda que, durante as filmagens, Bogart ligou para Hawks perguntando quem afinal havia assassinado uma personagem-chave da trama. O diretor telegrafou então para Chandler, que respondeu: "Sei lá".

    Na "versão do diretor", de 1945, temos cenas cortadas da edição original que esclarecem algumas dúvidas. E "A Arte de Matar", ambientado na Londres dos anos 1970, torna mais explícito o caráter patológico e até pornográfico da trama. Mas a película colorida e a "canastrice" de Robert Mitchum, como Marlowe, estão a anos-luz do "chiaroscuro" de Hawks e da cínica sensualidade e de Bogart -cujo onipresente cigarro é símbolo de um tipo de cinema que deve sua força à bruma de fumaça lançada sobre as indecifráveis motivações humanas.

    Conexões

    FILME: À BEIRA DO ABISMO
    DIRETOR: Howard Hawks
    DISTRIBUIDORA: Versátil Home Video (R$ 49,90)

    FILME: O FALCÃO MALTÊS
    O filme de Huston (que no Brasil já foi lançado como "Relíquia Macabra") se baseia no romance homônimo de Dashiell Hammett, criador do detetive Sam Spade.
    DIRETOR: John Huston
    DISTRIBUIDORA: Warner Home Video (1941, DVD, R$ 19,90; R$ 39,90, Blu-ray)

    LIVRO: O SONO ETERNO
    Nesse romance de 1939, surge Philip Marlowe, protagonista de outras narrativas do mestre do policial norte-americano.
    AUTOR: Raymond Chandler
    TRADUÇÃO: William Lagos
    EDITORA: L&PM (2001, 248 págs., R$ 19)

    Filme
    A GUERRA DOS BOTÕES
    Yann Samuell (Imovision, locação)
    Mais recente adaptação do livro homônimo de Louis Pergaud (1882-1915), em que batalhas de turmas de moleques franceses são a metáfora do espírito bélico. Tendo por pano de fundo a luta de independência da Argélia (1954-62), o foco são as privações econômicas e a eclosão da sexualidade, em singela alegoria das humilhações e pulsões que determinam a nada pacífica sociabilidade adulta.

    Divulgação
    Cena do filme "A Guerra dos Botões"
    Cena do filme "A Guerra dos Botões"

    Disco
    CAMARGO GUARNIERI: 3 CONCERTOS PARA VIOLINO
    Orquestra Sinfônica Municipal de São Paulo (Lua Music, R$ 8)
    Sob regência de Lutero Rodrigues, o violinista Luíz Fïlíp (primeiro brasileiro a integrar a Filarmônica de Berlim) interpreta ao vivo três obras-primas pouco conhecidas de Guarnieri. São peças de impressionante ousadia, com cadências do solista abrindo movimentos e refrões que se repetem em moto-perpétuo. O preço irrisório marca uma das melhores relações de custo-benefício da história da indústria fonográfica.

    Livro
    SKETCHBOOKS DE LOURENÇO MUTARELLI
    Lourenço Mutarelli (POP, caixa com 6 cadernos, R$ 150)
    Nome consolidado na literatura, com livros de ficção e teatro, Mutarelli projetou-se inicialmente como ilustrador. Esses "sketchbooks" são reproduções fac-similares de seus cadernos de desenho, com esboços e pinturas que interagem com as palavras. O conjunto inclui volume em que artistas comentam a composição desse universo obsessivo e underground.

    manuel da costa pinto

    É jornalista e mestre em teoria literária e literatura comparada pela USP. Escreve aos domingos, a cada duas semanas.

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