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    Manuel da Costa Pinto

    'Diário de Kioto' expõe experiência de artista plástico com a arte e a cultura do Japão

    28/04/2013 02h30

    Entre 2011 e 2012, o artista plástico Marco Giannotti viveu no Japão como professor de cultura brasileira na Universidade de Estudos Estrangeiros de Kyoto. A experiência teve forte impacto sobre sua obra: sem dispor de ateliê, obrigado a trabalhar em espaços restritos, ele produziu colagens com "washi", papel colorido feito a partir da amoreira.

    Os novos trabalhos estão expostos no Instituto Tomie Ohtake, ao lado de fotografias que o artista fez de paisagens, templos, jardins e ambientes internos. Integram também o livro "Diário de Kioto", que traz os textos que Giannotti escreveu para o jornal "O Estado de S. Paulo".

    Marco Giannotti/Divulgação
    Fotografia do livro do artista plástico Marco Giannotti, feitas no período em que o autor morou no Japão
    Fotografia do livro do artista plástico Marco Giannotti, feitas no período em que o autor morou no Japão

    Nas colagens, que fundem o sublime ao minimalista, o cromatismo do "washi" traz em escala menor o atrito entre forma e abstração de suas telas (atrito explicitado no paralelismo de gravuras e fotos). Ao mesmo tempo, as fibras do papel criam nova relação com o material, mais delicada e vinculada à natureza.

    Sem serem autorreferentes, os artigos colocam sua experiência na perspectiva, nem sempre óbvia ou conhecida, da relação da arte brasileira com o Japão: os textos do crítico Mario Pedrosa, as colagens com papel-arroz de Mira Schendel ou a técnica do origami oculta nos bichos de Lygia Clark (esculturas de metal dotadas de dobradiças).

    Giannotti mostra as contradições que cercam o intercâmbio secular do Japão com o Ocidente e, em especial, com o Brasil. Nota, por exemplo, que a arte acadêmica francesa serviu de modelo para a pintura ioga (ocidentalizante), no momento da abertura e modernização do país durante a Restauração Meiji (1867).

    Como contraprova desse refluxo entre tradição e modernidade, lembra como os impressionistas incorporaram o "ukiyo-e" (gravuras japonesas que remontam ao século 16), sempre com olhar que respeita a singularidade de cada artista, para além de determinações sociológicas --como no texto em que cita a influência do russo Mark Rothko sobre Tomie Ohtake e sobre si mesmo.

    LIVRO
    O LIVRO DO CHÁ *
    Esse ensaio de 1906 reflete sobre as relações entre a cerimônia do chá e as filosofias orientais --marcantes na experiência japonesa do artista Marco Giannotti.
    AUTOR: Kakuzo Okakura
    TRADUÇÃO: Leiko Gotoda
    EDITORA: Estação Liberdade (2008, 144 págs., R$ 39,80)

    EXPOSIÇÃO
    DIÁRIO DE KIOTO **
    As fotografias de Giannotti, exibidas no mesmo espaço das colagens, incluem imagens do caos visual urbano e de projetos dos arquitetos Tadao Ando e I. M. Pei.
    ARTISTA: Marco Giannotti
    ONDE: Instituto Tomie Ohtake (rua Coropés, 88, São Paulo, tel. 2245-1900, até 26/5)

    *

    DISCO
    REQUIEM FOR A PINK MOON *
    Joel Frederiksen (Harmonia Mundi, R$ 64,90, importado)

    Intérprete de óperas e oratórios, o baixo Joel Frederiksen (que também toca alaúde) promove encontro entre a música do cantor britânico Nick Drake (1948-1974) e a tradição renascentista. Acompanhado pelo Ensemble Phoenix Munich, seus arranjos detectam nos elisabetanos John Dowland e Thomas Campion os precursores da melancolia pastoral do compositor folk.

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    LIVRO
    A POMBA ESCURA *
    Eugene Webb; tradução de Hugo Langone (É Realizações, 312 págs., R$ 49)

    Com o subtítulo "O Sagrado e o Secular da Literatura Moderna", esse ensaio investiga o tema nas obras de poetas como Yeats, Rilke, Eliot e Auden, nos romances de Joyce e Thomas Mann, na filosofia de Nietzsche e na dramaturgia de Ibsen e Beckett. Em diálogo com a filosofia da religião, relativiza a tendência à secularização na sensibilidade do século 20.

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    Divulgação
    Cena do filme "Anjos de Cara Suja" (1938), do diretor Michael Curtiz
    Cena do filme "Anjos de Cara Suja" (1938), do diretor Michael Curtiz

    FILME
    ANJOS DE CARA SUJA *
    Michael Curtiz (Classicline, R$ 29,90)

    Humphrey Bogart está em cena, como um advogado corrupto, mas quem brilha é James Cagney. Após salvar um companheiro de pequenos delitos, ele vai para um reformatório, de onde sai como facínora diplomado. De volta ao bairro de origem, enfrenta o ex-amigo, que se tornara padre. Há moralismo nessa fábula sobre destinos díspares, mas o resultado é um clássico dos filmes de gângster.

    manuel da costa pinto

    É jornalista e mestre em teoria literária e literatura comparada pela USP. Escreve aos domingos, a cada duas semanas.

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