• Colunistas

    Monday, 13-May-2024 03:23:03 -03
    Manuel da Costa Pinto

    Em 'Magia ao Luar', Woody Allen faz autoironia sobre fase europeia

    26/04/2015 02h00

    Com seus filmes rodados na Europa, Woody Allen virou uma franquia de si mesmo. Dá a sensação de estar tirando férias da neurastenia amorosa e da hipocondríaca obsessão pela morte, levando-as para passear por Espanha ("Vicky Cristina Barcelona"), França ("Meia-noite em Paris") ou Itália ("Para Roma com Amor").

    Como ninguém pode saltar sobre a própria sombra, ele acaba sempre inserindo ali, em doses homeopáticas, um pouco do humor e da ironia irresistíveis de seus longas novaiorquinos. Mas os clichês eróticos, turísticos e pseudointelectuais desses filmes seriam vistos com a mesma benevolência se, nos créditos, não constasse o nome do diretor?

    A Inglaterra é um meio termo nessa produção irregular, com "Match Point", "Scoop" e "Você Vai Conhecer o Homem dos Seus Sonhos". Talvez porque ali os americanos encontrem não o hedonismo mediterrâneo, que os humilha e que precisam tornar exótico, como acontece na Europa latina, mas aquela fleuma britânica (outro clichê) que é a contraface elegante, "europeia", do pragmatismo e das ansiedades ianques.

    "Magia ao Luar" é ambientado na Côte d'Azur, o ensolarado sul da França, mas transporta para lá um clã de ingleses no qual se imiscui a americana Sophie (Emma Stone), cujo supostos dons mediúnicos arrebatam a todos, em especial o herdeiro boçal da família.

    Suspeitando de que a moçoila é uma farsante oportunista, um mágico amigo da família, Howard (Simon McBurney), procura a ajuda de Stanley (Colin Firth), um renomado colega de profissão que criou a personagem do ilusionista chinês Wei Ling Soo e é também um especialista em desmascarar embusteiros.

    O primeiro encontro entre os amigos é antológico: Stanley está em cartaz em Berlim e, após o espetáculo, ambos conversam num cabaré durante uma apresentação de Ute Lemper, espetacular cantora alemã especializada no repertório da República de Weimar (época do entre-guerras em que se passa "Magia ao Luar").

    Colin Firth é o filme. Niilista e narcisista, ele não consegue detectar onde está a fraude da médium, acaba tendo suas convicções materialistas abaladas e por ela se apaixona. Mais do que isso não dá para dizer sem estragar a surpresa do desenlace final.

    Basta dizer que "Magia ao Luar" pode ser visto como comentário divertido de Woody Allen sobre sua própria turnê europeia: encontrou na Europa um antídoto para seu ceticismo, que, no entanto, triunfa sobre tudo —menos sobre a servidão voluntária às promessas e ilusões do amor.

    FILME

    MAGIA AO LUAR **
    DIREÇÃO: Woody Allen
    DISTRIBUIDORA: Imagem Filmes (DVD R$ 39,90)

    manuel da costa pinto

    É jornalista e mestre em teoria literária e literatura comparada pela USP. Escreve aos domingos, a cada duas semanas.

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024