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    Mara Gama

    Lixo - O banheiro e o problema do esgoto

    DE SÃO PAULO

    25/07/2014 02h39

    O banheiro é o centro de uma mostra do Museu Nacional de Ciência Emergente e Inovação do Japão. A exposição "Toilet?! Human waste & Earth's future" (Banheiro?! Lixo humano e futuro da Terra) fica em cartaz até 5 de outubro, mostrando como o banheiro vem se transformando e modificando a vida das pessoas ao longo da história.

    Em ambiente lúdico e interativo, a exposição explora aspectos de comportamento, pesquisas científicas e impactos econômicos do lixo humano para o público infantil. A repercussão é grande. Piadas não faltam, claro. "Vamos falar de cocô", "Passeio bizarro", "Onde fica o museu do cocô", "Seja um cocô ao vivo na exposição de banheiros de Tóquio" são alguns títulos de reportagens e posts publicados em sites japoneses e europeus.

    A exposição é dividida em vários segmentos, onde se podem ver desde privadas high-tech último tipo, com tampas automáticas e sistema autolimpante, até uma divertida orquestra de privadinhas que cantam as dificuldades de seu ofício, passando por réplicas de fezes de animais feitas de resina, para livre manuseio, e uma área interativa para o visitante moldar em gesso sua última produção.

    Um dos sucessos da mostra, com fotos que estão rodando a internet desde a abertura, no começo de julho, é uma instalação de 5 metros de altura que mostra o caminho do banheiro até o esgoto, em formato de um vaso sanitário gigante. Para fazer a viagem, as crianças podem colocar gorrinhos com formato de cocô e descer pelo escorregador, que simula o tubo de descarga.

    The National Museum of Emerging Science and Innovation
    Cartaz da exposição sobre a história do banheiro em cartaz em Tóquio
    Cartaz da exposição sobre a história do banheiro em cartaz em Tóquio

    Durante o passeio, as crianças aprendem como é o sistema de purificação do esgoto e qual a tecnologia usada no Japão para a recuperação de recursos a partir dos resíduos, entre eles a filtragem de fósforo.

    Ficam sabendo também sobre como funcionam os sistemas para reaproveitamento dos excrementos em naves espaciais. Podem ver o protótipo Mark 5, um modelo conceitual de privada, e são instigadas a pensar no banheiro do futuro, que atenda a todos os tipos de usuário, o que é um dos princípios do design universal ou design inclusivo.

    As crianças aprendem também que tratamento de esgoto custa muito dinheiro, consome energia, requer investimentos constantes em tecnologia e que 2,5 bilhões de pessoas no mundo não têm acesso a instalações sanitárias.

    Muitos brasileiros fazem parte dessa estatística, que impacta na saúde e na educação. Segundo o Ministério das Cidades, 81% dos brasileiros têm acesso a água tratada, 46% têm esgotos coletados e, desse total, só 38% do esgoto é tratado.

    O Brasil ocupa a 112ª posição em ranking que mede os avanços de saneamento feitos desde 2000, em pesquisa feita pelo instituto Trata Brasil. O estudo aponta que a precariedade do saneamento tem reflexos na saúde e na economia. Se houvesse universalização, as internações por infecções gastrointestinais diminuiriam e haveria economia das despesas públicas em torno de R$ 27,3 milhões ao ano.

    Em junho, durante o Fórum de Sustentabilidade promovido pela Folha, o professor da FGV Gesner Oliveira fez uma projeção sombria: se for mantido o patamar de investimento atual na área, o Brasil só terá universalidade do saneamento em 2060. Seria necessário dobrar o investimento atual (de R$ 10,7 bilhões) para que a universalização do esgoto chegasse em 2031.

    Aumentar a produtividade dos projetos aceleraria o processo. Isto é, gerar mais ligações de água e esgoto mediante melhores projetos e técnicas. Se os investimentos duplicassem e a produtividade crescesse 30%, em 2024 o Brasil estaria quase todo saneado.

    mara gama

    É jornalista com especialização em design, roteirista e consultora de qualidade de texto.
    Escreve às sextas.

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