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    Mara Gama

    Lixo: Seletiva deve atingir 4,7 milhões em SP, mas comunicação segue fraca

    26/09/2014 03h00

    A abrangência da malha de coleta seletiva está aumentando em São Paulo e deve atingir 4,7 milhões de habitantes até outubro, mais de um terço da população da cidade (total de cerca de 12 milhões). A meta do Plano de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos (PGIRS) da cidade é de passar da taxa de 1,8% de recicláveis coletados no começo deste ano para 10% até 2016, quando se espera ter atingido os 96 distritos da cidade.

    A prefeitura anunciou na última terça (23) que dez novos distritos já começam neste fim de setembro a ser percorridos uma vez por semana pelos caminhões da seletiva, entre eles áreas grandes como Cidade Dutra, Grajaú, Socorro, Campo Limpo, Capão Redondo, Cidade Ademar e Ermelino Matarazzo. E, até outubro, 17 bairros serão integralmente atendidos, entre os quais Bela Vista, Bom Retiro, Cambuci, Consolação, Liberdade, República, Santa Cecília, Sé, Jaguaré, Lapa, Perdizes, Vila Leopoldina, Barra Funda, Santana e Tucuruvi.

    A ampliação da malha vai alimentar melhor as duas centrais de triagem mecanizadas Ponte Pequena e Santo Amaro, que foram inauguradas nos últimos quatro meses. Com capacidade para processar 250 toneladas por dia, elas hoje estão funcionando com volume bem menor e só devem chegar às 100 toneladas/dia cada uma em 2015, segundo o Secretário de Serviços da Prefeitura, Simão Pedro.

    O manejo de resíduos sólidos na cidade vai seguindo o estipulado no plano municipal. A gestão das centrais mecanizadas já têm seus fundos para administrar os lucros da venda de material para as recicladoras e as cooperativas que trabalham lá têm contratos com esse novo modelo de remuneração. O plano piloto de compostagem com minhocários teve 10 mil inscrições, distribuiu 2 mil composteiras, realizou oficinas com as famílias que foram contempladas e vai monitorar o desenvolvimento através do site, para orientar a sua continuidade. Dez centrais de reciclagem menores instaladas em prédios da prefeitura devem receber equipamentos nos próximos meses com recurso liberado pelo BNDES para as cidades-sede da Copa.

    Mas a adesão da população ainda é baixa. Muita gente não sabe o que separar, como separar, se sua rua é servida ou não pela coleta e para que serve mesmo toda essa conversa. A falta de informação é fatal para o engajamento. E ainda gera perda razoável de eficiência no sistema. De todo o lixo que chega nas duas centrais novas, só cerca de 60% é efetivamente reciclável, o que mostra que falta qualidade na separação nos domicílios. E só quem tem informação pode separar corretamente. Essa mudança de atitude só se resolve com campanha contínua de esclarecimento.

    O secretário Simão Pedro concorda com a necessidade de melhorar a comunicação. Segundo ele, estão sendo feitos esforços nesse sentido. Nos novos bairros e ruas onde a coleta está sendo implantada, os agentes das empresas coletoras estão distribuindo folhetos explicativos. Nas subprefeituras de Ermelino Matarazzo, Campo Limpo, Cidade Ademar, Capela do Socorro e Santana estão programados encontros com lideranças comunitárias para divulgar a coleta e engajar os moradores. Um programa de comunicação e educação ambiental específico para resíduos sólidos está sendo produzido.

    As empresas concessionárias que dividem a coleta domiciliar da cidade, Loga e Ecourbis, têm o dever de empenhar 0,5% do valor dos contratos em comunicação e educação. A prefeitura está em processo de contratação de uma verificação independente dos dois contratos. O objetivo é analisar o que foi feito devidamente nos primeiros 10 anos (eles foram assinados em outubro de 2004) e avaliar como as concessões podem se adaptar ao plano de resíduos da cidade. Talvez venha daí alguma novidade sobre mais e melhores investimento em comunicação.

    Dois outros projetos, se bem aproveitados, têm o poder de difundir a ideia de separação e coleta de recicláveis, porque atingem também as crianças, vetores importantes de propagação. Um é o programa Coleta Seletiva Solidária, que deve enquadrar todos os prédios da municipalidade, incluindo repartições, hospitais, creches e escolas na separação de resíduos secos. O outro é o projeto Escola Sustentável, de aproveitamento do lixo orgânico em hortas nas escolas municipais. Mas, de novo, se não tiverem transparência, acompanhamento de cada fase e comunicação eficiente, correm o risco de não funcionar como bons multiplicadores.

    NÚMEROS GENÉRICOS

    Através do sistema de apontamento de erros nas páginas do site da Folha, um leitor comentou alguns números da coluna da semana passada sobre a composição dos celulares. Eu dizia em meu texto que "basicamente, os celulares são compostos de 45% de plástico, 10% de cerâmicas, 20% de cobre, 20% de ouro, alumínio e outros metais e 5% de outros elementos." Usei números de uma pesquisa da GSMA, associação de empresas de celulares. Em sua mensagem, o leitor disse que "a porcentagem de ouro contido nos produtos eletro-eletrônicos não é 20%, nem 2 %". Na mesma mensagem ele dizia também que, no Brasil, quem faz trabalhos na área de como transformar resíduos em matéria-prima novamente, há mais de 20 anos, é o Larex da Poli-USP. Procurei então o Larex, que é o Laboratório de Reciclagem, Tratamento de Resíduos e Metalurgia Extrativa, e falei com Denise Espinosa, uma de suas coordenadoras. Ela me disse que não dá para dizer que o número está errado. Mas também não dá para dizer que está certo. Ela diz que não usa esse tipo de tabela genérica para celulares. "A composição varia muito com época de produção, modelo e marca". Vou procurar evitar esses genéricos.

    mara gama

    É jornalista com especialização em design, roteirista e consultora de qualidade de texto.
    Escreve às sextas.

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