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    Mara Gama

    Lixo: Catadores brasileiros falam de reciclagem e inclusão em Nova York

    10/10/2014 02h46

    O sistema do lixo nas ruas de Nova York chamou a atenção de Eduardo Ferreira de Paula, que visitou a cidade no mês passado. Nas calçadas perto do hotel em que se hospedou, ele observou dois tipos de sacos: pretos com lixo misturado e transparentes com recicláveis. Viu catadores de recicláveis recolherem os sacos transparentes, privilegiando os que tinham plásticos e latinhas e levarem até postos de entrega mecanizados que retornam tíquetes de acordo com o peso do material entregue. Os tíquetes viram vale alimentação ou dinheiro. Ele não notou nenhuma conexão ou organização entre os catadores.

    Eduardo Ferreira de Paula é um dos mais antigos integrantes do Movimento Nacional dos Catadores de Recicláveis (MNCR), entidade brasileira que tem 13 anos e que se formou com o objetivo de defender condições de trabalho e remuneração justas, reconhecimento ao papel ambiental dos catadores e a inclusão de suas cooperativas na cadeia econômica da reciclagem. O MNCR teve papel fundamental na estruturação da lei brasileira que regulamenta o setor, considerada avançada por especialistas em gestão de resíduos.

    Com mais oito representantes do MNCR, dos estados de São Paulo, Paraná, Espírito Santo, Rio Grande do Norte, Sergipe e Minas Gerais, Ferreira de Paula participou de um painel sobre sustentabilidade e combate à pobreza, evento paralelo à 69ª Assembleia-Geral das Nações Unidas e que foi realizado na Universidade de Columbia, dia 24 de setembro.

    No painel, havia também integrantes do Cempre, Compromisso Empresarial para a Reciclagem, associação para a gestão integrada do lixo; representantes da secretaria-geral da Presidência da República, da Fundação Banco do Brasil, da Organização Internacional do Trabalho (OIT) e do Banco Interamericano para o Desenvolvimento (BID). Na plateia, segundo Ferreira de Paula, membros de ONGs, estudantes e professores.

    Os catadores defenderam o desenvolvimento sustentável com coleta seletiva, reciclagem popular, inclusão e valorização profissional. A ideia da reciclagem popular é de estruturar todos os elos do ciclo produtivo, desde a coleta até a industrialização do material reciclável, em organizações autogestionárias.

    Eduardo Ferreira de Paula fez um balanço da atuação dos catadores no país hoje. Segundo avaliação do MNCR, há entre 800 mil e 1 milhão de catadores e 650 associações ou cooperativas no Brasil. Do total de catadores, 10% estão organizados e ganham entre um e dois salários mínimos em média.

    Passados quatro anos da aprovação da Política Nacional dos Resíduos Sólidos, o maior ganho, segundo ele, foi o fim da invisibilidade, com o reconhecimento da atividade dos catadores explicitamente na lei.

    "Mas ainda estamos no começo. Ainda tem muitos catadores não organizados, muitos lixões nos Estados e muitos informam que vivem de catação nos lixões. Falta olhar para os catadores e dar condições de trabalho para eles", diz.

    O desafio do MNCR, segundo ele, é ter representantes em todos os Estados, para batalhar pelo fim dos lixões e de suas condições degradantes de trabalho e pela organização de cooperativas que absorvam os trabalhadores egressos desses locais, em processos regulares de coleta e reciclagem.

    O representante dos catadores diz que o MNCR acompanha com cautela a implantação de grandes centrais mecanizadas, como as que foram criadas este ano em São Paulo. "As mecanizadas são boas para conseguir escala e atingir a meta de reciclar 10% dos resíduos da cidade, mas achamos que é importante criar centrais menores de triagem por distrito, que permitam a inclusão de mais catadores nesse processo", diz.

    mara gama

    É jornalista com especialização em design, roteirista e consultora de qualidade de texto.
    Escreve às sextas.

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