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    Mara Gama

    Lixo: Um banquete comunal para 5.000 contra o desperdício de comida

    17/10/2014 03h00

    Divulgação

    Mais de 800 milhões de pessoas não têm comida suficiente no prato. Uma em cada três crianças sofre de desnutrição. E mesmo com esse panorama, um terço dos alimentos produzidos no mundo é perdido ou estragado entre a produção, a colheita e as etapas de processamento, transporte, distribuição, transformação nas indústrias, vendas, restaurantes, refeitórios e casas, segundo dados da Organização das Nações Unidas para a Alimentação, FAO.

    Entrepostos, supermercados, feiras e grandes centrais de varejo são locais onde se desperdiçam milhares de toneladas diárias. Mas a pequena linha de montagem doméstica que conecta geladeira, tábua de corte, pia e fogão não fica atrás: calcula-se que 17% do desperdício de alimentos é de responsabilidade do consumidor final.

    Nesse mês de outubro, o desperdício de alimentos está em pauta. No sábado (18), em Oakland, nos Estados Unidos, acontece o primeiro "Feeding 5000" da América, já batizado de Woodstock das sobras, um banquete de rua, de graça, para 5.000 pessoas, que será feito com milhares de quilos de produtos que estavam destinados ao lixo porque não atendiam aos padrões das cadeias de supermercados.

    Chefs famosos vão fazer demonstrações sobre como preparar comida com criatividade a partir dos inevitáveis restinhos de ontem. Ambientalistas e especialistas em alimentação e resíduos farão palestras. Uma programação de atividades para todas as idades quer ensinar a cozinhar de forma divertida e assim aproximar as pessoas do preparo dos seus próprios alimentos.

    O "Feeding 5000" nasceu em 2009, e o primeiro banquete foi na Trafalgar Square, em Londres. Já foi realizado em Paris, Dublin, Amsterdã e Bruxelas. Criado pelo escritor Tristam Stuart e desenvolvido pela organização Feedback, no Reino Unido, o "Feeding 5000" recolhe produtos que foram rejeitados, apesar da boa qualidade, de fazendas e empresas, e prepara refeições com o objetivo de aumentar a conscientização sobre o problema do desperdício de comida, propor soluções criativas e alertar para a necessidade de ter uma alimentação saudável.

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    Aqui no Brasil, o Dia Mundial da Alimentação (16 de outubro) foi também o aniversário de 15 anos do Banco de Alimentos, uma associação civil paulistana que combate a fome e o desperdício de comida em dois pontos da cadeia: o polo distribuidor e a cozinha.

    A ONG busca excedentes de comercialização - em geral, o que está bom para consumo, mas perdeu valor para venda - em sacolões, supermercados e padarias e distribui o que foi arrecadado entre entidades como creches e lares para idosos.

    Nas 43 entidades que recebem as doações, o Banco faz oficinas culinárias com os funcionários das cozinhas para ensinar o aproveitamento integral das matérias primas em suas receitas. Para essa atividade, conta com estudantes do curso de Nutrição do Centro Universitário São Camilo.

    De janeiro de 1999 a julho de 2014, segundo dados do Banco de Alimentos, foram arrecadados na Grande São Paulo 5.470.760,88 quilos de alimentos, que serviram de complementação para 51 milhões de refeições, evitando o desperdício. A ONG sobrevive de doações dos alimentos e de empresas que custeiam seus gastos com funcionários, administração e transporte, e conta com trabalho voluntário.

    Um estudo da nutricionista Monica Galisa, doutora em Bioética e uma das coordenadoras do curso de Nutrição da São Camilo, aponta que esse tipo de iniciativa tem tido papel importante na melhoria das condições nutricionais da população carente atendida. Os bancos de alimentos fornecem prioritariamente frutas, verduras e legumes, justamente os itens fundamentais para a construção de uma dieta mais equilibrada e saudável, na direção oposta do sobrepeso e da obesidade.

    Para esse trabalho, a professora analisou os seis bancos de alimentos existentes na cidade durante o ano de 2012. Naquele ano, os bancos forneceram suplementação alimentar para 727 entidades na cidade. O estudo foi apresentado durante um evento do Banco de Alimentos na tarde da quinta (16), em São Paulo.

    mara gama

    É jornalista com especialização em design, roteirista e consultora de qualidade de texto.
    Escreve às sextas.

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