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    Mara Gama

    Municípios têm de usar os orgânicos em compostagem e biodigestão

    24/04/2015 02h00

    A maior parte dos municípios brasileiros tem menos de 50 mil habitantes. Das 5.570 cidades, 3.915 estão nessa faixa. Os cinturões verdes, áreas ao redor dos centros urbanos formadas de pequenos sítios, chácaras, reservas, pomares são de grande importância para a manutenção da qualidade de vida dos cidadãos. Usar os resíduos orgânicos dessas cidades na agricultura ou na geração e energia ou combustível é a melhor solução.

    Além de manterem o microclima regional, nos cinturões verdes são em geral cultivados frutas e hortaliças, para abastecer os mercados urbanos e evitar grandes viagens desses produtos de caminhão, o que significa economia de combustível, diminuição da poluição e melhor condição de consumo –produtos mais frescos na mesa do consumidor.

    Pois esses mesmos municípios, os menores, são os que têm mais dificuldades para construir aterros sanitários e conseguir destinar corretamente seus resíduos. A falta de aterros adequados faz com que muitas prefeituras tenham de exportar lixo para outros municípios vizinhos, criando uma rota rodoviária completamente nefasta. Viagens e viagens de resíduos cruzando o país.

    Em grande parte dos municípios litorâneos, o problema se agrava. Por causa da proximidade de mananciais, não é permitido fazer aterros.

    Esses dois fatores –municípios pequenos com cinturões verdes e dificuldade de destinar adequadamente os resíduos– apontam para as soluções da compostagem e biodigestão de orgânicos. Essa é a opinião de Elisabeth Grimberg, coordenadora da área de resíduos sólidos do Instituto Pólis e uma das articuladoras da Aliança Resíduo Zero Brasil.

    "É um absurdo que essas cidades enterrem os orgânicos que geram e deixem de usá-los de volta na terra, como adubo, ou como energia ou combustível, do biogás, todas essas aplicações que poderiam melhorar as economias locais. O perfil dos municípios brasileiros é este", diz.

    Para Elisabeth, a sociedade tem de pressionar os gestores para que haja a coleta em três frações tão logo quanto possível, a saber: recicláveis, orgânicos e não-recicláveis. Calcula-se que 60% dos resíduos domésticos seja de orgânicos. Com a separação e aproveitamento dessa parte, o volume de resíduos a encaminhar para os aterros diminui drasticamente. Os não-recicláveis, chamados de rejeitos, são os únicos que devem ser destinados aos aterros.

    "Desde 2010 já se sabe que apenas os rejeitos devem ir para os aterros. Por isso, não adianta lutar só pelo fim dos lixões. Hoje, temos de focar no debate e na implantação da coleta separada de orgânicos e no seu aproveitamento", diz.

    Os orgânicos e os restos de podas de árvores podem ser usados localmente para alimentar a agricultura dos cinturões urbanos. Num mesmo local podem ser instalados usinas de biogás e área de compostagem. Elisabeth cita o exemplo do Consórcio Verde Brasil, na cidade de Montenegro, no Rio Grande do Sul.

    "Existem alternativas tecnológicas importantes e possíveis", afirma.

    Para tratar desse assunto e discutir sobre as possibilidades de mudança na atual Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) o Instituto Pólis faz um seminário no dia 28 de maio, em São Paulo. As inscrições podem ser feitas pelo site polis.org.br.

    Uma das palestrantes será Magdalena Donoso, coordenadora da Aliança Global para Alternativas à Incineração, GAIA, América Latina.

    mara gama

    É jornalista com especialização em design, roteirista e consultora de qualidade de texto.
    Escreve às sextas.

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