• Colunistas

    Thursday, 02-May-2024 10:25:12 -03
    Mara Gama

    Lixo: Contrabando de e-lixo gera lucro alto e contamina áreas pobres do planeta

    15/05/2015 02h00

    A indústria eletrônica é uma das que mais cresce no mundo. Mas ela deixa marcas notáveis: por ano, são geradas até 41 milhões de toneladas de lixo eletrônico a partir de computadores e telefones inteligentes. Até 2017, calcula-se que sejam atingidas as 50 milhões de toneladas.

    Publicado na última segunda-feira (12), em Genebra, o relatório "Crimes e Riscos de resíduos", do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, o Pnuma, aponta que de 60% até 90% desse lixo eletrônico são comercializados ilegalmente em rotas de contrabando e no fim da linha podem acabar despejados no meio ambiente.

    Em valores, esse mercado ilegal é avaliado entre US$ 12,5 e US$ 18,8 bilhões ao ano, seguindo a estimativa da Interpol, que calcula a tonelada de lixo eletrônico em torno de US$ 500.

    Atualmente, Europa e América do Norte são os maiores produtores de lixo eletrônico. África e Ásia são os principais destinos de resíduos perigosos para aterros e para reciclagem. Na África, Gana e Nigéria estão entre os maiores recebedores, ao lado da Costa do Marfim e do Congo. Na Ásia, China, Hong Kong, Paquistão, Índia, Bangladesh e Vietnã recebem remessas ilegais de lixo eletrônico.

    E como circula esse e-lixo no mundo? A exportação de resíduos perigosos entre União Europeia e os países membros da Organização para a Cooperação Econômica e Desenvolvimento (grupo que inclui EUA, Canadá, Austrália, Japão e Coreia) é proibida.

    Mas não há consenso internacional sobre os critérios técnicos para classificar resíduos nas suas categorias de periculosidade, contaminação e capacidade de gerar dano ambiental. Além disso, as legislações de exportação e importação de resíduos entre os outros países do globo têm brechas importantes que deixam vazar o tráfego ilegal.

    Assim, milhares de toneladas de lixo eletrônico são falsamente declaradas como bens de segunda mão e exportadas de países desenvolvidos para países em desenvolvimento, incluindo resíduos de pilhas descritas como plástico e tubos de raios catódicos e monitores de computador declarados como sucata de metal.

    Uma outra modalidade de negócio ilegal e altamente lucrativo, segundo o relatório do Pnuma, é a atuação de empresas que recebem pagamentos para a eliminação segura de resíduos tóxicos e posteriormente despejam esses resíduos em terrenos sem qualquer preparação ou proteção ambiental.

    A reciclagem de eletrônicos para obtenção de metais de terras raras como cobre e ouro, sem os devidos cuidados, também acaba gerando lixo contaminado em várias partes do planeta.

    Em discurso, o sub-secretário-geral da ONU e diretor executivo do Pnuma, Achim Steiner, alertou para a ameaça crescente para a saúde humana e para o ambiente, devido aos elementos perigosos que o e-waste contém.

    Segundo ele, são necessários uma complexa e eficiente cooperação internacional, através de um alinhamento legislativo, a promoção de regulamentos nacionais mais fortes e a fiscalização efetiva para prevenir e banir o comércio e o despejo ilegal de lixo eletrônico.

    É um desafio enorme e essencial para limpar o mercado global de resíduos, que movimenta, da coleta até a reciclagem, cerca de US$ 410 bilhões por ano, gerando emprego e renda.

    mara gama

    É jornalista com especialização em design, roteirista e consultora de qualidade de texto.
    Escreve às sextas.

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024