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    Mara Gama

    Lixões custam R$ 1,5 bi/ano ao sistema de saúde do país, diz estudo

    02/10/2015 02h00

    Cerca de 75 milhões de brasileiros usam, provavelmente sem saber, os 3.000 lixões ou aterros inadequados ativos no país. E são afetados pelos danos ambientais causados por eles: contaminação do ar, da água, do solo, da fauna e da flora por substâncias tóxicas e cancerígenas. Um novo estudo fez a conta do impacto do problema no sistema de saúde do país: R$ 1,5 bilhão por ano.

    Os gastos incluem os tratamentos de saúde, as perdas de dias de trabalho por afastamento médico e a remediação de danos ambientais.

    Se o lobby pela prorrogação do prazo do fim dos lixões conseguir vencer a batalha e eles se mantiverem abertos como hoje, em cinco anos o custo chegará a US$ 1,85 bilhão (R$ 7,4 bilhões).

    A contaminação provocada por esses depósitos irregulares não atinge apenas moradores das proximidades, trabalhadores de limpeza urbana e catadores de materiais recicláveis, embora sejam estes os grupos com mais risco, por causa do contato direto.

    Como poluem o solo e o lençol freático, os lixões criam um vetor de propagação de doenças, que chega aos animais e ao cultivo de alimentos e segue pela cadeia alimentar até chegar aos consumidores humanos.

    Realizado pela Associação Internacional de Resíduos Sólidos (Iswa, da sigla em inglês) em parceria com o Sindicato das Empresas de Limpeza Urbana (Selur) e com a Associação Brasileira de Empresas de Limpeza (Abrelpe), o estudo foi coordenado pelo presidente do comitê técnico e científico da Iswa, Antonis Mavropoulos, que apresentou os resultados na última segunda-feira (28).

    Usando um parâmetro internacional, o levantamento estimou que 1% da população que se serve de lixões adoece. Tomou o custo de U$ 500 por paciente no sistema de saúde brasileiro (cerca de R$ 2.000) e chegou ao cálculo de que anualmente sejam gastos U$ 370 milhões (cerca de R$ 1,5 bilhão).

    Além dos custos para o sistema público de saúde, o estudo calculou o valor que o país deveria investir para reverter os prejuízos ambientais causados pelos lixões. Entre 2010 e 2014, essa conta ambiental ficou em cerca de US$ 2,1 bilhões (R$ 8,4 bilhões).

    Somando a conta da saúde com a do ambiente, nos próximos cinco anos o custo que o país paga por manter os lixões abertos é estimado entre US$ 3,2 bilhões (R$ 12,8 bilhões) e US$ 4,65 bilhões (R$ 18,61 bilhões).

    O presidente da Abrelpe, Carlos Silva Filho, considera que esses recursos seriam suficientes para fechar de vez os lixões e tornar eficiente e sustentável a gestão de resíduos no Brasil.

    NO MUNDO

    Antonis Mavropoulos fez um amplo estudo sobre os prejuízos do descarte irregular de resíduos e os impactos nos sistemas públicos de saúde em vários países. De acordo com sua análise, os lixões afetam a saúde e a qualidade de vida de 3,5 a 4 bilhões de pessoas no mundo e 40% do lixo gerado é enviado a esses locais. Riscos à saúde acarretados pelos lixões na Índia, Indonésia e nas Filipinas estão sendo considerados superiores aos riscos da malária.

    Segundo ele, de acordo com o relatório "Waste Atlas 2014", que lista os 50 maiores lixões do mundo, o descarte a céu aberto ocorre com frequência nas proximidades dos centros urbanos. Em alguns casos, áreas residenciais são formadas e se expandem ao redor dos lixões.

    Ainda de acordo com o Atlas, dos 50 maiores lixões, 42 possuem assentamentos a menos de 2 km de distância, 44 estão perto de recursos naturais (menos de 10 km) e 38 estão perto de recursos hídricos como rios, lagos e oceanos, afetando a vida marinha e as populações costeiras.

    mara gama

    É jornalista com especialização em design, roteirista e consultora de qualidade de texto.
    Escreve às sextas.

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