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    Mara Gama

    Lixo: Composto recupera solo e tem uso crescente na Itália

    13/11/2015 02h00

    A queda da fertilidade do solo na Europa é preocupante. No Sul do bloco, 75% da área é considerada em estágio de predesertificacão. E a solução vem dos centros urbanos. Mais exatamente do composto orgânico gerado a partir de resíduos de jardins, feiras, restaurantes, supermercados e domicílios.

    A Itália vem usando esse remédio intensamente e fez uma verdadeira revolução na área. O exemplo é muito interessante, tanto do ponto de vista de uma alternativa verde para diminuir o uso dos fertilizantes minerais quanto do tratamento adequado de resíduos, para diminuir volume nos aterros, e fazer a economia circular.

    No começo dos anos 1990, havia uma dezena de locais de aproveitamento de resíduos biológicos na Itália. Em apenas 20 anos, houve um salto e hoje são 240 centros de produção de composto orgânico e 42 usinas que somam produção de composto e biogás, usado para gerar eletricidade e calor.

    O setor de compostagem representa 40% de todos os resíduos sólidos urbanos reciclados e tem volume de negócios anual estimado de € 390 milhões.

    No total, o país coleta anualmente 5,6 milhões de toneladas de resíduos orgânicos, provenientes de comida e lixo verde (jardins, parques), sendo que 95% desse total é compostável. Os centros de tratamento e usinas produzem com esse material mais de 1,5 milhão de toneladas de composto. Para a agricultura, vão 70% desse total e os restantes 30% são destinados ao cultivo de plantas, paisagismo e parques.

    A experiência italiana foi apresentada por representantes do consórcio de compostadores italianos, CIC, que participam nos dias 12 (quinta) e 13 de um seminário sobre aproveitamento de resíduos orgânicos em São Paulo.

    Promovido pela associação internacional de empresas de resíduos, a Iswa, e pela Abrelpe, a Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais, o evento faz parte da Fimai - Ecomondo, Feira Internacional de Meio Ambiente Industrial e Sustentabilidade.

    A boa separação na origem é a chave para ter um composto de boa qualidade, segundo os especialistas italianos.

    Hoje, em grande parte das cidades italianas, há dois sistemas de coleta distintos de orgânicos. Um mais frequente, para restos de comida, que inclui alimentos cozidos ou não, carnes e peixes, e outro para podas de jardim e parques.

    Também são usados containers diferenciados para casas isoladas, bairros ou comunidades, desenhados especialmente para evitar propagação de odores, e sacos biodegradáveis.

    Desde 1998, o composto é considerado um produto e não um resíduo. Isso mostra a mudança da cadeia produtiva e um lugar diferente na economia. Em 2006, a CIC lançou um selo de qualidade que segue um protocolo de exigências e testes para garantir as características adequadas dos compostos segundo classificações de uso.

    Mas como iniciar um processo nessa direção num país como o Brasil, onde a reciclagem mais simples, de resíduos secos (plásticos, vidros, papéis e alumínio), tem índices tão baixos?

    Para o especialista em tratamento de orgânicos Marco Ricci, a compostagem doméstica pode ser um bom começo para o engajamento da população com vistas à separação correta dos orgânicos.

    Ele acha que fazer em casa, no condomínio ou em pequenas comunidades é a maneira certa de perceber como é simples e experimentar a economia representada pelo uso racional dos resíduos.

    Em sua apresentação, Ricci disse considerar que diferenças culturais ou de mentalidade não são impeditivas para a adesão das pessoas a programas desse tipo. O que é decisivo, segundo ele, é o bolso. Isto é, quando se vê vantagem ou menos desvantagem (tipo menos multa) na redução, no reúso e na reciclagem, os costumes mudam. Magari!

    mara gama

    É jornalista com especialização em design, roteirista e consultora de qualidade de texto.
    Escreve às sextas.

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