Os peixes estão perdendo lugar para os restos de plástico que se acumulam no mar. Se nenhuma medida for tomada, em 2050 os antigos donos da casa serão minoria.
A perspectiva sombria se baseia na seguinte conta: atualmente, cerca de 8 milhões de toneladas de plástico são despejadas nos oceanos por ano, o equivalente a um caminhão de plásticos por minuto.
Mantendo o mesmo ritmo de descarte inadequado, seriam dois caminhões por minuto em 2030 e, em 2050, quatro caminhões por minuto, o que faria com que o peso total do plástico acumulado nas águas superasse o peso total dos peixes.
Esse é o cenário desenhado por um amplo estudo divulgado na última terça-feira (19) pela Fundação Ellen MacArthur, em parceira com a consultoria McKinsey, durante o Fórum Econômico Mundial em Davos, na Suíça.
Mas o relatório "A Nova Economia do Plástico", como o nome já indica, não faz esse alerta para atacar o uso ou buscar alternativas que excluam o plástico. Pelo contrário, o estudo condena a deposição desastrosa no meio ambiente, reconhece o papel fundamental da indústria para eliminar o desperdício do material nos oceanos e tenta responder ao desafio de criar uma nova era virtuosa, em que o plástico não se torne jamais lixo. Para isso, serão necessárias mudanças nas maneiras de produzir, vender, consumir, desenhar e principalmente reaproveitar os plásticos.
A necessidade de reaproveitamento é economicamente gritante: hoje em dia, 95% das embalagens plásticas são descartadas depois de usadas uma única vez, praticamente novas, o que é um extraordinário desperdício de energia, trabalho, capital, investimento e insumos. Só para se ter uma ideia, em 2050, segundo as projeções do mesmo estudo, a indústria do plástico consumirá 20% da produção de petróleo do mundo.
O documento propõe a criação de um Protocolo Internacional do Plástico que teria o objetivo de fomentar, organizar, testar e divulgar pesquisas e conhecimentos sobre redesenho de produtos de plástico, sistemas de pós-uso e formas de estímulos para o mercado de plásticos reciclados. Seria um organismo global de direção e estímulo à inovação.
Do ponto de vista global, no curto e médio prazo, o relatório aconselha a universalização da coleta regular de resíduos e o fim dos lixões e vazadouros, seguidos pelo desenvolvimento de opções comercialmente viáveis para o tratamento de recicláveis. No longo prazo, o relatório identifica a necessidade de inovação em tecnologias de recuperação e tratamento, desenvolvimento de novos materiais e projetos de produtos que facilitem reutilização e reciclagem.
O relatório aponta também a urgência de soluções locais para a produção, o consumo e o pós-consumo do plástico nos países em desenvolvimento, onde não há coleta básica universalizada. Nessas regiões, diagnostica, é necessário que a indústria de plásticos trabalhe com o setor informal da economia na coleta de resíduos e isso implica ter que lidar com saúde e segurança dos trabalhadores.
Em setembro de 2015, a ONG americana Ocean Conservancy já havia feito as mesmas projeções sobre a poluição marinha, quando lançou propostas de medidas para mitigar essas emissões de plástico nos oceanos. Segundo o estudo da ONG, os próximos 10 anos serão cruciais para atacar globalmente o problema e será necessário construir um consenso político em torno do tema. O relatório estima que os custos para a implementação de soluções seriam da ordem de US$ 5 bilhões por ano.
O primeiro passo para diminuir a poluição por plásticos no mar seria a eliminação do fluxo de descarte de resíduos em cinco países prioritários: China, Indonésia, Filipinas, Tailândia e Vietnã. Nesses países, o consumo excede a capacidade de gestão e tratamento dos resíduos. Eles seriam responsáveis por metade de todo o plástico que é lançado no mar.
Estudos da Ocean Conservancy também elencaram os principais vilões do mar, segundo suas coletas em diversos pontos do planeta. Linhas, jaulas e redes de pesca estão em primeiro lugar no potencial de perigo, mas logo a seguir aparecem balões, tampinhas de garrafa plástica, brinquedos e sacolas plásticas, que são confundidos com comida pelos mamíferos marinhos.
Uma praga difundida pelo mundo todo –só no Brasil são entre 15 e 17 bilhões de unidades distribuídas por ano– as sacolinhas vêm sendo banidas progressivamente em vários locais. Na França, o fim das sacolas está previsto para 2016. E dentro do seu Programa de Transição Energética, até janeiro de 2020 deve ser proibida a venda de colheres, facas, garfos e pratos descartáveis. Segundo estudo feito por lá, esses itens descartáveis geram 30 mil toneladas de lixo por ano.
É jornalista com especialização em design, roteirista e consultora de qualidade de texto.
Escreve às sextas.