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    Mara Gama

    Rodrigo Bueno garimpa fragmentos da natureza e objetos para sua arte

    25/03/2016 02h00

    Duas instalações exibem em São Paulo os últimos trabalhos do artista plástico Rodrigo Bueno com materiais garimpados na rua. Nelas, o artista usa fragmentos de grades de ferro, madeira de demolição e caules, troncos e mudas abandonadas em terrenos da cidade para construir ambientes que evocam o poder da natureza, como uma celebração ritual.

    "Acho importante trazer o cotidiano da cidade para dentro do meu trabalho. Uso esses materiais pela memória que já possuem, no seu desenho e no seu uso, e por um interesse arqueológico que tenho sobre quem fomos e quem somos", diz Bueno. "Além disso, acho que precisamos usar essa abundância de coisas que já produzimos, ir contra o desperdício", afirma.

    As grades já fazem parte do trabalho do artista desde a instalação "Rebentos", no jardim do Museu da Casa Brasileira, em 2014. "Escolho as grades pela qualidade do desenho e do material. Quero levar para o pedestal das galerias e da nossa atenção essas artesanias que estão desparecendo e também celebrar a memória dos negros ferreiros que trabalhavam com o ferro antes mesmo da imigração dos artesãos europeus", diz Bueno.

    Divulgação
    "Barravento", instalação do artista Rodrigo Bueno no Sesc Vila Mariana
    "Barravento", instalação do artista Rodrigo Bueno no Sesc Vila Mariana

    Em "Barravento", que ocupa um terraço antes sem uso no Sesc Vila Mariana, as grades vazadas são recortadas, pintadas, dobradas e apoiadas de forma delicada no solo em diversos planos e direções, criando um contraponto às ideias de contenção, limite, fechamento que derivam da função das grades na proteção das casas e das pessoas.

    Com a suspensão das grades, a exploração plástica dos seus desenhos e sombras e as composições com plantas que parecem brotar do concreto, o artista diz querer propor o que chama de um "novo equilíbrio". "Para se proteger, você acaba se isolando do mundo. Então, essa instalação é meu protesto poético que clama por uma cidade com menos muros, menos compartimentação", diz.

    "O nome "Barravento" tem a ver com a força do vento, da tempestade, da força da natureza, e inspiração no filme de Glauber Rocha", diz. " É a violência que antecede à transformação". "Para mim, é como se uma força muito grande tivesse acariciado as grades, moldando-as de outra forma", conta ele.

    Divulgação
    Instalação "A Ferro e Fogo", de Rodrigo Bueno, na Galeria Marilia Razuk
    Instalação "A Ferro e Fogo", de Rodrigo Bueno, na Galeria Marilia Razuk

    Numa sala da Galeria Marilia Razuk está a instalação "A Ferro e Fogo" de Bueno. Seu eixo central é uma haste de agave, com seus ramos e brotos, mumificada e pintada pelo artista com tons que lembram uma labareda. Em volta dela, alguns vestígios das grades. Nas paredes, troncos de árvore, galhos e brotos formam um espaço invadido e comandado pela natureza.

    "Escolhi essa haste por sua qualidade escultórica e pela ideia que ela encerra, de um elemento já adulto, que está encerrando sua vida, e de onde saem milhares de brotos, recomeçando um ciclo", diz. "Essa imagem tem a ver com a minha vontade de, com o meu trabalho, dar nova vida aos materiais".

    RODRIGO BUENO
    Instalação "A Ferro e Fogo", Galeria Marilia Razuk, rua Jerônimo da Veiga, 62, tel.: (11) 30790853.
    Instalação "Barravento", Sesc Vila Mariana, rua Pelotas, 141, tel.: (11) 5080-3000.

    mara gama

    É jornalista com especialização em design, roteirista e consultora de qualidade de texto.
    Escreve às sextas.

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