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    Mara Gama

    Quantidade de resíduos aumenta mesmo com queda de PIB e consumo

    07/10/2016 02h00

    Lalo de Almeida 28-08-2013/Folhapress
    Catadores de lixo coletam material reciclável no lixão de Altamira, as margens da rodovia Transamazônica
    Catadores de lixo coletam material reciclável no lixão de Altamira, às margens da Transamazônica

    A quantidade de materiais descartados continua a crescer no Brasil, descolada de outros indicadores importantes em queda ou estabilidade. O total dos chamados Resíduos Sólidos Urbanos (RSU) aumentou 1,7% de 2014 a 2015, período em que o PIB caiu 3,8% e a população cresceu a uma taxa bem menor: 0,8%.

    Os dados fazem parte do Panorama dos Resíduos Sólidos no Brasil 2015, estudo realizado anualmente pela Abrelpe (Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais) com informações enviadas pelos municípios, e que foi divulgado na quinta (6).

    A desconexão entre os índices indica que a crise econômica pode fazer diminuir o padrão e o preço do que é consumido, mas não tem alterado os hábitos de consumo no sentido de conter o desperdício. Além disso, a eventual troca de um produto caro por um mais barato não diminui a quantidade ou o volume de embalagens descartadas e nem de material orgânico inutilizado.

    "Nos outros serviços, como água e energia, a crise leva o consumidor a economizar. Mas, nos resíduos, como não há pagamento pelo volume descartado, não há estímulo, não há consciência da necessidade e nem meios de economizar", avalia Carlos Silva Filho, presidente da Abrelpe.

    "Também não há, na indústria, um processo de incentivo para a diminuição das embalagens. Não tem produto com refil, não tem oferta substantiva de produto vendido a granel", analisa.

    Um ponto positivo apontado pela Panorama é um aumento de iniciativas municipais de coleta seletiva: cerca de 70% dos municípios têm algum programa nesse sentido.

    Mas o vilão continua sendo a disposição inadequada. Mais de 3.300 municípios usam locais inapropriados para receber o material de coleta. Em termos absolutos, cerca de 30 milhões de toneladas de resíduos foram dispostas em lixões e aterros controlados (que não têm todas as garantias ambientais necessárias) em 2015, quantidade que é 1% maior que a registrada em 2014.

    O problema vem aumentando de volume ano a ano. "E os municípios seguem brigando para aumentar os prazos que têm para construir aterros", diz Silva.
    Atualmente, são 76,5 milhões de brasileiros afetados diretamente pelo problema, cerca de 1/3 da população.

    Guerra contra os 50 maiores lixões

    A Abrelpe deve lançar oficialmente na próxima semana uma campanha de guerra aos lixões, que é organizada mundialmente pela Iswa (Associação Internacional de Resíduos Sólidos) e que foi apresentada no último congresso internacional da entidade, em setembro, na Sérvia.

    No Brasil, o mote será: "Não é pelos resíduos, é pelas pessoas". A Iswa já havia apresentado no ano passado estimativas do impacto negativo dos lixões. De acordo com esse estudo, os 50 maiores lixões do mundo recebem cerca de 40% dos resíduos do planeta, servem de 3 a 4 bilhões de pessoas e afetam a vida de 64 milhões de pessoas, população do tamanho da França.

    A lista dos 50 maiores inclui o Lixão da Estrutural, de Brasília, o maior da América Latina, que é tratado pelo governo municipal como aterro controlado.

    Além do custo ambiental e humano, o custo financeiro dos lixões no planeta é calculado em dezenas de bilhões de dólares ao ano. Se nada for feito, esses locais serão responsáveis por de 8% a 10% das emissões globais de gases de efeito estufa até 2025. Abordei o impacto no Brasil na coluna, em outubro.

    Para atuar no combate aos maiores 50 lixões a Iswa desenvolveu um manual. O documento traz orientações sobre como proceder para o fechamento e o desenvolvimento de um sistema de gestão de resíduos, com requisitos políticos, financeiros, técnicos, ambientais e sociais.

    A Abrelpe vai traduzir o manual e pretende entregar aos prefeitos eleitos no Brasil. "O importante é sensibilizar os pequenos e médios municípios, que alegam não ter dinheiro para fazer a destinação correta. Mas poderiam gastam bem menos com saúde se erradicassem os lixões", diz Silva

    mara gama

    É jornalista com especialização em design, roteirista e consultora de qualidade de texto.
    Escreve às sextas.

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