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    Mara Gama

    Mostra revela a cidade dos rios escondidos

    23/06/2017 02h00

    Mostrar o traçado dos cursos originais que correm sob a urbanização da cidade e despertar o "sensor humano de água" para a preservação são objetivos da exposição Rios Des.cobertos. Em cartaz desde a última quarta (21) e até dezembro, no Sesc Pinheiros, a mostra revela a hidrografia de São Paulo, em sua maior parte escondida em canos abaixo das ruas, vielas, avenidas, pequenas praças e dos lotes construídos.

    A atração principal é uma grande maquete branca tridimensional que representa a área central da cidade e as várzeas dos rios Pinheiros, Tietê e Tamanduateí. Essa maquete recebe projeções de imagens de vários sistemas que podem ser escolhidos pelos visitantes: a rede de água visível, a de água coberta, a divisão de ruas, imagens de satélite, relevo. Além disso, animações mostram a movimentação das chuvas e consequentes focos de alagamento, por exemplo.

    O projeto, que já esteve nas unidades Vila Mariana e Carmo do Sesc, tem conteúdos novos em cada local de montagem. Em Pinheiros, o foco é o rio –ou córrego– Verde, do qual muita gente só se lembra na época das chuvas e enchentes, quando vê fotos de carros boiando nas proximidades do Beco do Batman, na Vila Madalena. Um dos braços do rio Verde passa por ali. Cruzando vários bairros, ele deságua no rio Pinheiros nas proximidades do clube Hebraica.

    "Na paisagem de São Paulo, é como se os rios não existissem. O paulistano não os enxerga. Primeiro porque estão enterrados. Segundo, porque, quando a água é visível, você enxerga um canal e não um rio", diz Luiz de Campos Jr., educador e um dos fundadores da iniciativa Rios e Ruas, responsável pela mostra em parceria com o Estúdio Laborg, que desenvolve projetos de audiovisual. E ninguém conserva o que não sabe que existe.

    "As pessoas dizem: `ah, o rio tem cheiro ruim'. Mas o rio não tem cheiro de nada, o que cheira mal é o esgoto que nós jogamos nele", diz Campos.

    Além das textos e fotos contando a história dos rios e dos processos de retificação, canalização e soterramento, que privilegiou a cultura do carro contra a preservação racional da natureza, a exposição mostra também iniciativas de recuperação de vegetação e descobrimento de rios.

    Para sensibilizar os visitantes para a existência dos rios estão programadas três expedições de reconhecimento, nas quais será possível observar a passagem do rio Verde e de seus afluentes. "Nascemos equipados para perceber e encontrar água em qualquer lugar, mas nossos sensores estão adormecidos", diz Campos .

    Nas expedições, são mostrados indicadores da presença de água, como relevo, vegetação e umidade do ar, para "religar o sensor". Depois de participar de uma dessas explorações, "você vira especialista e fica ligado para sempre", completa Campos. Os passeios devem acontecer dos dias 02/07, 19/08 e 23/09 e devem ser agendados no Sesc.

    O Rios e Ruas nasceu em 2010, parceria do arquiteto e urbanista José Bueno com Luiz de Campos Jr., justamente para oferecer oficinas, cursos e vivências de reconhecimento das bacias hidrográficas da cidade.

    "Até 2012, não existia sequer um mapa oficial com todos os rios da cidade". Campos conta que os dados da maquete da mostra atual vieram desse mapeamento oficial e de informações agregadas posteriormente.

    "Ao que sabemos, nossa maquete é a única representação desse porte e com esses detalhes. Ela permite uma visão da cidade totalmente diferente. Por isso recebemos muitos alunos de universidades e urbanistas, além das crianças, que adoram", diz.

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    "Rios Des.Cobertos - O Resgate das Águas da Cidade"
    Onde: Sesc Pinheiros. Rua Paes Leme, 195, Pinheiros, tel. (11) 3095-9400
    Visitação: terça a sábado, das 10h30 às 20h30; domingos e feriados, das 10h30 às 18h30
    Entrada: gratuita
    e-mail: agendamento@pinheiros.sescsp.org.br

    mara gama

    É jornalista com especialização em design, roteirista e consultora de qualidade de texto.
    Escreve às sextas.

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