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    Mara Gama

    Desafio do Clima premia design engajado com comunidades

    24/11/2017 13h16

    Produtos, sistemas e serviços centrados na resolução de problemas locais de comunidades são a maior parte dos vencedores do Desafio do Clima. O concurso, organizado pela plataforma holandesa de conferências What Design Can Do, revelou na quinta (23), em São Paulo, os seus 13 premiados. O What Design Can Do está na décima edição na Holanda e começou no Brasil há 3 anos.

    Para o Desafio das Mudanças Climáticas, foram 384 inscrições, de 70 países, até o fim de setembro. Desses, 170 foram de profissionais criativos, 122 de estudantes e 93 de startups. Energia e água lideraram os focos dos projetos, seguidos por alimentação, saúde e habitação.

    Numa primeira peneira, foram selecionados e avaliados 35 projetos. Os autores receberam essas avaliações e puderam melhorar suas propostas. Nos dias 21 e 22 de novembro, um júri internacional de especialistas em design, empresas sociais, ciências climáticas, ambientalistas e gestores de negócios se reuniu em São Paulo para eleger vencedores.

    Os ganhadores terão direito a um prêmio de € 900.000 (R$ 3,4 milhões) e 5 meses de um programa de aceleração na Holanda. O programa vai reunir todos os vencedores durante o processo e prevê desenvolvimento de protótipos, testes de uso, plano de negócios, planos de investimento e escalonamento da produção. O objetivo é deixar os projetos prontos para serem oferecidos a investidores que os queiram apoiar.

    Em maio, os resultados vão ser mostrados na edição do What Design Can Do em Amsterdã.

    Para Dagan Cohen, designer e coordenador do juri, a premiacão fez um bom balanço de projetos de diferentes estágios de implantação e complexidade, mas "todos rompem o discurso mais conhecido do design europeu".

    Cohen destaca o fato de ter dois projetos de indianos entre os premiados, já que o país sofre especialmente com as mudanças climáticas. Índia, Holanda, Estados Unidos e Brasil estão no ranking de envio de projetos. Entre eles, só o Brasil não obteve premiação.

    Um dos projetos mais interessantes para Dagan Cohen é o da Universidade Vertical do Nepal. Num país montanhoso como o Nepal, em que há desde planícies tropicais até regiões do Himalaia alpino, o projeto prevê que um estudante nepalês poderia caminhar pela montanha em 118 diferentes tipos de floresta e aprender com os agricultores locais sobre a diversidade física e biológica da paisagem.

    Outro projeto destacado por Cohen, mostrando a diversidade de temas, foi o projeto The Change Rangers, que propõe nova concepção do trabalho dos escoteiros americanos. Em vez de ensinar habilidades básicas de acampamento, o programa oferece aos jovens conhecimentos para ajudar a tornar suas comunidades mais resilientes, como o cultivo de jardins sustentáveis, reparo e reutilização de eletrônicos e gerenciamento de riscos de desastres naturais.

    Nicole Oliveira, ativista da 350.org e também integrante do juri, apontou como destaque o projeto de código aberto Dronecoria. Nele, são usados drones para dispersar sementes para reflorestamento em áreas críticas. As sementes são preparadas com um envólucro de argila com os nutrientes necessários para o sua germinação. O processo inclui mapeamento dos locais, escolha das sementes e de seu espaçamento. Decidido isso, pode ser replicado inúmeras vezes, o que tornaria cada participante de uma comunidade que adotasse o programa um plantador de milhares de árvores.

    ÁGUA

    Energia, alimentação e economia de água. O Power Plant é uma estufa que mantém a temperatura e a luminosidade adequadas para o cultivo, independentemente do seu local de instalação. Células de captação de energia solar revestem toda a superfície externa exposta ao Sol e tornam o mecanismo auto-suficiente. Podem servir para grandes estruturas no campo e também para hortas urbanas em edifícios. Se for usado o sistema hidropônico, há uma economia de 90% da água.

    "Apenas adicione água e Sol", indica o projeto Desolenator, que usa a luz solar para purificar a água de qualquer fonte e torná-la potável. Portátil e pequeno, reduz a pegada de carbono da dessalinização industrial, da água engarrafada e da necessidade de caminhões distribuidores. O objetivo da empresa é fazer com que 1 milhão de pessoas sejam independentes nos primeiros 5 anos de operações.

    Doenças relacionadas à contaminação da água matam milhares de crianças a cada ano. O Nivara é uma unidade pequena de produção de carvão ativado de baixa tecnologia, que funciona com energia solar. O carvão ativado é usado em filtros para melhorar os padrões de purificação de água. Cada Nivara pode produzir diariamente o suficiente de carbono ativado para filtrar 20 mil litros de água.

    O projeto Artifical Glaciers, já em operação, canaliza e armazena água de derretimento glacial sob a forma de enormes cones de gelo, com cerca de 30 a 50 metros de altura. Por causa do formato, eles se derretem lentamente. À medida que o calor aumenta, eles alimentam os campos e fornecem a água potável na região do Himalaia.

    A maior parte dos produtos de limpeza pessoais e domésticos contém mais de 80% de água. Se a água for adicionada apenas no momento de uso, a economia de transporte, embalagens e resíduos é enorme, garante a equipe do Twenty, que venceu também o concurso com detergente, sabonete e shampoo em grânulos, barras e cápsulas.

    Também entre os vencedores, o Free Wind usa a compressão do ar para esfriá-lo. Feito de material biodegradável e em impressão 3D, é projetado de forma modular para ser usado em diferentes locais ao redor da casa. Tem baixo custo, fácil montagem e ajuda a refrescar as casas em zonas afetadas por ondas de calor.

    O Counting Carbon é um assistente de compras inteligente na web que permite aos consumidores comprar produtos alimentares mais ecológicos. Outros vencedores foram uma estação portátil de rádio e um programa de TV sobre o clima feito por crianças que coletam amostras e discutem a poluição.

    mara gama

    É jornalista com especialização em design, roteirista e consultora de qualidade de texto.
    Escreve às sextas.

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