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    Marcelo Coelho

    Gregos e troianos

    09/04/2016 02h00

    Com 116 deputados inscritos para falar, era previsível uma grande variação na qualidade dos discursos na comissão do impeachment. Até o começo da noite de ontem, a divisão de estilos e temas mostrou-se bastante clara.

    Deputados contra o impeachment, como Arlindo Chinaglia (PT-SP), Pepe Vargas (PT-RS) e Jandira Feghali (PC do B-RJ) foram específicos na refutação do relatório de Jovair Arantes (PTB-GO).

    Destacaram os argumentos do governo: os decretos de gastos sem autorização do Legislativo foram feitos por administrações anteriores. Pedaladas fiscais? Um desajuste temporário de contas entre o governo e bancos públicos.

    Se nada é crime, estamos diante de um golpe. Pepe Vargas, enfático na medida certa, dizia que se qualquer governo sem maioria parlamentar estiver sujeito a impeachment, uma grande imprevisibilidade pode ocorrer em todas as esferas administrativas.

    Arlindo Chinaglia insistiu no ponto: esse processo começou "de trás para frente". No início, o impeachment era uma "bandeira no ar". Depois, segundo Chinaglia, é que se acharam os argumentos.

    Jandira Feghali foi menos convincente. Criticou o relatório de Jovair Arantes por incluir temas (como corrupção na Petrobras) que desde o início haviam sido descartados pelo presidente da Câmara.

    Mas quem leu o relatório sabe que Jovair Arantes examinou todos os pontos da denúncia, exatamente para rejeitar o que fugia da questão orçamentária. Não fazia sentido chamar de "inconstitucional" e "ilegal" o texto do relator.

    Em todo caso, o esforço era de discutir a questão específica em jogo, repetindo sempre a tese do "golpe".

    Os primeiros oradores a favor do impeachment foram mais genéricos, passando do medíocre ao assustador. Evair de Melo (PV-ES) citou a renúncia de Bento 16 como um exemplo a ser seguido por Dilma.

    Rogério Marinho (PSDB-RN) exemplificou o discurso da extrema direita. Não há segurança nas fronteiras do país, em função do acordo do PT com países bolivarianos. Dilma é "um Hugo Chávez tupiniquim de saias". Membro do partido de Fernando Henrique Cardoso, Marinho acusou o governo de querer "destruir a família" com os ensinamentos de Gramsci e da Escola de Frankfurt.

    Aqui não é o Supremo Tribunal Federal, justificou o mais moderado Vanderlei Macris (PSDB-SP). Mesmo assim, enfrentou a questão específica: o governo se orientava por metas não aprovadas pelo Legislativo, e isso não é admitido. "A base jurídica está aí"; a questão política está expressa "pela sociedade nas ruas".

    Com argumentos bons ou ruins, o debate seguiu, sem tumulto. Cada orador respeitou seu tempo, embora a lógica, num caso tão complicado, seja bem mais difícil de seguir à risca.

    marcelo coelho

    É membro do Conselho Editorial da Folha. É autor de romances e de coletâneas de ensaios. Comenta assuntos variados. Escreve às quartas.

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